Opinião

O remédio heroico: dos milhares aos milhões

RUY ALTENFELDER - Presidente honorário do Centro de Integração Empresa-Escola (Ciee)

HUMBERTO CASAGRANDE - CEO do Ciee

No meio jurídico, o remédio heroico é a denominação dada ao habeas corpus pela sua capacidade de resolver injustiças e garantir direitos. Essas mesmas palavras podem também traduzir o que representa o Programa do Jovem Aprendiz para os jovens, para as empresas e para o país. Correção de injustiças e criação de um futuro promissor para jovens e para empresas.

Criada há pouco mais de 20 anos, a Lei do Aprendiz construiu um fantástico legado que é reconhecido navegando-se pelas pesquisas que medem seus resultados, pelo relato das empresas e dos jovens e pelos números que provam sua contribuição para o desenvolvimento econômico e social do país. Para o jovem, é uma transformação na vida. Algo que abre horizontes, oferece oportunidades, repele por opção o abandono da escola, o caminho das drogas e da violência. Transforma vidas e constrói futuros.

Para as empresas, traz o novo, a nova linguagem da sociedade, o novo comportamento do consumidor e a possibilidade de renovar os quadros com pessoas motivadas que se empenharão com afinco para fazer jus às oportunidades que lhes foi dada. Para as boas empresas, aquelas que terão futuro, pois são verdadeiramente 4G, de há muito o aprendiz não é uma cota, mas uma oportunidade, uma importante ferramenta de RH. Empresa verdadeiramente permeável ao jovem é empresa de futuro.

Para o país, um instrumento para dar esperança à nossa desolada juventude, criar empregos, provocar crescimento e evitar evasão escolar, drogas e violência. Ao contrário do que querem pensar alguns, o Programa do Aprendiz não é um curso para tecnólogos. Ele vem para cobrir gaps na formação familiar e escolar da nossa juventude. Apesar disso, o resultado para as empresas é melhor que o tecnólogo, pois prepara o jovem para, num segundo momento, ser um técnico de grande valor. Sem passar pela aprendizagem, ele não consegue concluir os cursos de formação nos hard skills ou não se forma nesses programas com uma base tão sólida.

Querer comparar o aprendiz brasileiro com programas de países desenvolvidos ou questionar o cálculo das cotas feitos com base no Código Brasileiro de Ocupações (CBO), como fazem os inimigos do programa, são fórmulas dissimuladas para, na prática, acabar com o Aprendiz.

Nessa altura, alguns diriam: como assim? Tem gente que é inimiga do Programa do Aprendiz? Infelizmente a resposta é sim. E como tem. Eles estão entranhados no meio empresarial atrasado e na burocracia estatal. Não perdem nenhuma oportunidade de agir no sentido de ferir de morte essa que é a única esperança do jovem poder trabalhar e estudar sem precarização. É ainda um importante instrumento de recursos humanos para as empresas modernas e disruptivas.

Por essa razão, apesar de todos os predicados, o Programa do Aprendiz não passa de um projeto piloto. Temos menos de 500 mil jovens inscritos no programa. Há um potencial estimado de 17 milhões de jovens. Temos de caminhar dos milhares para os milhões. Ao invés de ficarmos na defesa do Programa do Aprendiz para que ele não acabe, a sociedade e o poder público deveriam se unir para criar um programa de Estado de inclusão do jovem e transformação da mentalidade empresarial. Um país que não olha para seus jovens é um país sem futuro.

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