Pouco sabem os brasileiros sobre as propostas dos pré-candidatos a presidente, governador, senador, deputados federal e estadual, faltando menos de oito meses para as eleições, além de demonstrações veladas na troca de acusações pelo noticiário. Acuado diante da baixa de popularidade, o presidente da República, em recente encontro com empresários, lançou seus rivais em afirmações esvaziadas sobre supostos riscos que o país correria se entregue a esses adversários, a exemplo de insegurança jurídica e revisão da Lei Trabalhista. Os concorrentes, por sua vez, articulam sem expor o conteúdo dos programas que vão sustentar as campanhas.
Mais do que os habituais discursos de interesse político, está na hora de os pré-candidatos revelarem planos de ação, propostas para dilemas que, se já não são o bastante para mobilizá-los, ao menos deveriam ser avaliados como definidores do voto em outubro. O novo revés provocado pela covid-19, associado ao surto gripal, e à inflação que se imaginava conjuntural, mas mostra que pode ser longa, trazem à tona dois desses grandes desafios: como buscar um mercado interno de consumo forte e característico das nações desenvolvidas e garantir investimentos no setor produtivo.
O consumo das famílias, considerado um motor vital da economia e do crescimento, subiu modestos 0,9% no Brasil de julho a setembro do ano passado, último dado disponível sobre o comportamento dessa variável do Produto Interno Bruto (PIB) do país, que costuma representar 60% do cálculo da atividade. A expansão — embora positiva, por ter refletido a reabertura de diversas atividades após a melhora, à época, dos indicadores da covid-19 —, esbarra na elevação das taxas de juros, que encarece o crédito, no aumento da inflação, no desemprego persistente e na queda da renda do trabalho no Brasil.
Difícil será imaginar ter ocorrido performance substancialmente superior tanto nos últimos meses de 2021, quanto neste começo de ano. O rendimento real habitual do brasileiro, de R$ 2.449, descontada a inflação, caiu 4,6% no trimestre encerrado em outubro de 2021, segundo o IBGE, frente ao trimestre anterior, e 11,1% na comparação com o período de agosto a outubro de 2020. Dado preocupante também foi revelado em estudo da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), que indicou queda de 7,1% da movimentação de consumidores no varejo e no setor de serviços durante a primeira semana de janeiro. O resultado, apesar de previsível após a virada do ano, foi bem inferior à queda de 6,3% observada na entrada de 2021.
Sem qualquer crítica ao valor das exportações para as nações subdesenvolvidas, os teóricos da economia enfatizam a importância da produção e do consumo internos para o crescimento sustentável. A valorização do produto obtido dentro desses países, assim como a capacidade da população de consumir, tem papel fundamental para o fortalecimento do PIB. Enquanto isso, surgem limitações a essas nações, muitas vezes com as exportadoras de matérias-primas e itens agrícolas, as quais não têm poder de barganha na definição dos preços internacionais e condições de expandir, de forma continuada, a sua oferta no comércio internacional.
Nessa perspectiva, outra âncora da economia, os investimentos só ganham robustez em ambiente de confiança no comando do país e atados à própria roda que faz a economia girar. Acompanhada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), a taxa de investimento no Brasil seguia, no ano passado, a tendência de encerrar o período em modestos 17,2% do PIB, índice inferior à média global, de 26,7%. Melhorar essa performance não é a única meta a ser perseguida. A referência para esse reforço deveria ser, no mínimo, a proporção de 23,5% alcançada em 1994. Como o Brasil não poderá contar com a ajuda do crescimento mundial neste ano e tendo de lidar, como as outras nações, como os efeitos de uma pandemia das proporções da covid-19, essa tarefa é mais desafiadora, não pode esperar e exige compromisso daqueles que se candidatam a dirigir o país.