JOSÉ MATIAS-PEREIRA - Economista, advogado, doutor em ciência política pela Universidade Complutense de Madri (UCM-Espanha), e pós-doutor em administração pela Universidade de São Paulo (FEA/USP). É professor-pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis da Universidade de Brasília
O fenômeno da pandemia de covid-19 pode ser dimensionado pela velocidade da disseminação global da doença, em suas diversas ondas, e pelos efeitos negativos causados nas áreas da economia, social e sanitária. Pode-se argumentar que a crise provocada pela pandemia, que matou mais de 5,3 milhões de pessoas no mundo no biênio 2020-2021, vai continuar impactando, de forma desigual, nas economias da maioria dos países, nos próximos anos.
A profunda desorganização do sistema econômico mundial provocado pelas drásticas medidas sanitárias para combater a doença, em particular o confinamento social, pode ser percebido, em especial, pela quantidade de empresas fechadas, piora nas contas públicas e desemprego em nível recorde. Observa-se que o nível de impacto ou perspectivas de recuperação variam entre as realidades de cada país e dependem da efetividade das medidas emergenciais adotadas pelo governo. As incertezas e dificuldades de fazer projeções estão presentes no cenário atual, e as explicações sobre o que ocorreu nesse período ainda são frágeis.
É necessário recordar que as medidas de isolamento social (lockdown) recomendadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS, 30.1.20) e adotadas pelas autoridades sanitárias da maioria dos países, inclusive do Brasil, para evitar a contaminação das pessoas pelo novo coronavírus, visando preservar os sistemas de saúde e salvar vidas, travou de forma repentina a economia da quase totalidade dos países ao longo de 2020. Registre-se que o sincronismo dos impactos da pandemia de covid-19 em todo o mundo fez com que poucos países registrassem crescimento econômico naquele ano (FMI, oct. 2021).
Seus maiores impactos ocorreram sobre o mercado de trabalho, aumento da pobreza e falências. O Produto Interno Bruto Brasileiro (PIB) do Brasil, conforme revisão feita pelo IBGE (2021), encolheu 3,9% em 2020. Em valores correntes, o PIB chegou a R$ 7,4 trilhões (US$ 1,445 trilhão). O PIB per capita (por habitante) em 2020 foi de R$ 35.172, com queda de 4,8%. A estimativa de crescimento do PIB brasileiro para 2021 é de 5,1% e para 2022 de 2,1%. A revisão das projeções no final de 2021 está relacionada à piora no cenário internacional, notadamente a crise de energia que afeta alguns países na Europa e a quebra de cadeias produtivas (SPE-ME, dez. 2021).
Os esforços desenvolvidos por grande parcela dos países para controlar a pandemia de covid-19 contribuíram para a retomada mais célere da economia mundial em 2021, refletindo de forma positiva nas projeções de crescimento para os próximos anos. As informações divulgadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS, dez. 2021) e por diversos governos e grandes laboratórios de medicamentos sobre a eficácia das vacinas para imunizar a população mundial das novas variantes da covid-19 também são animadoras.
A análise dos dados econômicos do Brasil (FMI, OCDE, IBGE, SPE, 2021), indica que a retomada da economia no pós-pandemia da covid-19 não será fácil, visto que o país, que vinha buscando se recuperar de um período recessivo, terá que superar, nos próximos anos, os obstáculos e os desafios do desemprego, da inflação ascendente, do aumento da pobreza, das falências, do baixo nível de investimentos e a da necessidade de um mercado de crédito mais eficiente.
Diante desse contexto, torna-se possível argumentar, considerando que os indicadores analisados devem ser interpretados com cautela, e não como uma medida precisa do crescimento previsto da atividade econômica, que o cenário mais provável é o crescimento da economia brasileira em forma U, ou seja, um crescimento que permitirá a recuperação da maior parcela do choque recessivo com uma taxa menor nos próximos anos.
A superação do baixo crescimento vai depender, entre outros fatores, de mais investimentos na economia, redução da taxa de desemprego e controle da inflação, o que exige um cenário de estabilidade política que permita a aprovação das reformas estruturais, em especial, a tributária e a administrativa; confiança no país, e segurança jurídica. Pode-se afirmar, por fim, apoiado na estreita relação que existe entre economia e política, que o desempenho da economia será fator decisivo para a escolha do presidente da República nas eleições de outubro de 2022.