SACHA CALMON - Advogado
Para Rafael Walendoff, que dá ótimas informações para o Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio, que envolve toda a cadeia antes e depois da porteira, a estimativa da Confederação Nacional da Agricultura (CNA) é de crescimento de 9,4% em 2021 — número alto, ante a elevação de 24,3% em 2020 influenciado pelo peso do aumento de custos de produção de insumos e serviços. Em 2022, a previsão é de avanço de 3% a 5%, em meio às incertezas no cenário econômico. As exportações deverão se manter aquecidas, com a China como principal destino, aqui Bolsonaro só atrapalhou.
"Não foi o ano que esperávamos, mas foi razoável", disse o presidente da CNA, João Martins. A frustração foi motivada pelo clima, que limitou a colheita de grãos. Ele também lamentou as críticas aos produtores por causa dos preços dos alimentos e manteve o otimismo de que o país alcançará uma produção de grãos da ordem de 300 milhões de toneladas em até três anos. A previsão para esse ciclo (2021/22) é atingir 289,8 milhões de toneladas. "O povo tem que saber que não existe processo especulativo por parte do produtor rural, que ele não determina o preço", afirmou.
O diretor técnico da entidade, Bruno Lucchi, acredita que o último trimestre deste ano já deverá apresentar números mais satisfatórios para o campo. O clima deve favorecer, apesar das preocupações no Rio Grande do Sul e no oeste do Paraná com os efeitos já sentidos da terceira safra consecutiva de La Ninã. A principal preocupação para 2022 são os custos de produção, que devem ser os maiores da história, puxados pelos aumentos nos preços dos insumos, como fertilizantes, defensivos, combustíveis e até do crédito rural, que ficará mais caro com a elevação dos juros. Para culturas como soja, milho e café, o incremento tende a ultrapassar 60%. Com isso, a margem de lucro será achatada, mas não a ponto de tirar a rentabilidade dos produtores.
"Certamente teremos redução de margem" disse Lucchi. Cada produtor terá que traçar estratégias para aproveitar as janelas para a compra de insumos e a venda da produção com rentabilidade, de olho no câmbio e no clima. O desafio será maior no plantio da segunda safra nos próximos meses, uma vez que os produtores ainda não compraram todos os insumos. Muitos devem rever as análises de solo para calibrar a adubação, mas não há possibilidade de falta de fertilizantes ou defensivos no campo.
Sem solução de curto prazo, a entidade defende incentivos à indústria de fertilizantes para expandir a produção doméstica. No caso dos defensivos, a aposta é em um projeto de lei para permitir a importação direta de agrotóxicos de países de Mercosul, onde estão mais baratos. As exportações do agronegócio brasileiro renderam US$ 110,7 bilhões de janeiro a novembro de 2021, um crescimento de 18,4% em relação ao ano passado. O avanço foi puxado pelo câmbio favorável e por preços elevados, uma vez que o volume das vendas registrou diminuição de 6,5%.
Considerada uma jogada comercial pelo presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), João Martins, nem a suspensão das exportações de carne bovina brasileira para a China, que já dura mais de três meses, impediu o novo recorde da balança do setor. "Não foi problema sanitário. Ao contrário, eles sabem disso. O que houve foi uma jogada de mercado (...) A China esperava que o preço do boi fosse cair e prorrogou o embargo", afirmou.
O impasse comercial é considerado "normal" pela diretora de Relações Internacionais da CNA, Lígia Dutra. A lição a ser tirada do episódio, segundo ela, é a necessidade de aproximação maior com os clientes. "A China ainda é uma grande desconhecida", afirmou "Temos uma presença desproporcional no país, pelo tanto que a gente vende. Temos que ser mais presentes", emendou.
Sem as compras chinesas, o Brasil ampliou as exportações de carne de gado para outros destinos, como Estados Unidos e Chile. A diversificação de produtos e destinos ainda é uma meta perseguida pela CNA para ampliar a fatia de 1% que o país detém do comércio mundial. O foco é o mercado asiático e a construção de acordos bilaterais. "Não é falta de demanda, é falta de oferta, de ter a pauta mais diversificada", completou Lígia.
Ano positivo em 2022, acredita a CNA. Mas será preciso acompanhar o desenrolar da pandemia e os possíveis reflexos no transporte marítimo, os gargalos logísticos, a menor oferta global de insumos e o protecionismo crescente — ligado principalmente a temas ambientais, que estarão cada vez mais presentes na pauta do comércio internacional na Europa.
"Muitos países estão colocando normas unilaterais, mas não se engajam em discussões multilaterais sérias, como na OMC (Organização Mundial do Comércio), em questões que impactam a sustentabilidade", criticou Lígia Dutra. Uma dessas discussões envolve a redução dos subsídios agrícolas distorcivos.