Se a ansiedade e a depressão já eram uma preocupação entre os especialistas da área de saúde em todo o mundo antes da pandemia, desde o surgimento da covid-19, o número de pessoas com transtornos mentais tem aumentado de forma significativa. De acordo com a Organização Pan-americana de Saúde (Opas), estima-se que mais de 300 milhões de indivíduos sofram atualmente com depressão. Um estudo recente da revista científica The Lancet mostra que os casos de depressão aumentaram 28% e os de ansiedade cresceram 26% no mundo, em 2020, devido à pandemia.
No Brasil, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 12 milhões de brasileiros sofrem de depressão, o que equivale a 5,8% da população do país. Já a ansiedade afeta 18,6 milhões de brasileiros e os transtornos mentais são responsáveis por mais de um terço do número de pessoas incapacitadas nas Américas. Sem controle, a depressão pode gerar um grande sofrimento na vida da pessoa e, em casos mais graves, levar ao suicídio.
Estima-se que cerca de 800 mil pessoas no mundo tiram a própria vida a cada ano, sendo essa a segunda principal causa de morte entre jovens com idade de 15 a 29 anos.
Como não poderia deixar de ser, a saúde emocional piorou, e muito, durante a pandemia. A dificuldade em lidar com perdas, sejam elas quais forem, o medo da contaminação pelo coronavírus e a situação econômica desfavorável potencializam as doenças mentais com repercussões diretas na vida social, familiar, no estudo e no trabalho.
O impacto na saúde emocional é tão grande que a síndrome de Burnout (esgotamento profissional) entrou este ano na classificação da Organização Mundial de Saúde como CID-11 na relação de doenças do trabalho e passa a ser tratado de forma diferente, com a empresa sendo responsável pela saúde integral dos funcionários.
Diante desse cenário, é preciso, mais do que nunca, falar sobre a saúde mental. E esse é o foco da campanha Janeiro Branco, criada em 2014 e realizada em vários países do mundo com o objetivo de chamar a atenção em nível global para questões e necessidades relacionadas à saúde mental e emocional das pessoas e das instituições.
O movimento é formado por voluntários de todo Brasil que buscam divulgar informações e dados sobre saúde mental, conscientizando a respeito da importância de falar abertamente em relação ao tema e de quebrar tabus que ainda envolvem a saúde mental e emocional das pessoas. A escolha da campanha no primeiro mês do ano é em função desse ser um período em que as pessoas estão mais propensas a pensarem e repensarem suas vidas, em suas relações sociais, profissionais, e traçarem metas, mas a campanha se estende ao longo do ano.
Em tempos difíceis, o engajamento da sociedade, dos órgãos de governo e de especialistas da área médica é fundamental para trazer à luz um tema ainda complicado de lidar para muitas pessoas e historicamente negligenciado. Depressão não é uma simples tristeza, ou frescura, como pensam algumas pessoas. Trata-se de um processo de adoecimento mental, que gera um enorme sofrimento, atrapalhando a vida familiar, social e profissional de quem convive com o transtorno sem o devido tratamento e acompanhamento médico e psicológico. Cuidar das emoções, portanto, é o primeiro passo para uma vida mais harmoniosa em todos os aspectos.
Para isso, é preciso criar políticas públicas de saúde no país visando a prevenção e promoção da saúde mental, bem como discutir formas de acolhimento e facilitar o acesso ao diagnóstico e tratamento dos transtornos mentais e emocionais. Só assim será possível combater tabus e levar informação de qualidade para a população e desenvolver ações que promovam a vida em todas as circunstâncias.