Faltam nove meses para as eleições presidenciais, e com o presidente da República em cima do palanque e os principais concorrentes em campanha explícita, apesar de a legislação não permitir isso neste momento, os eleitores devem ficar alertas, pois o risco de o populismo imperar no discurso está cada vez maior. Há uma predileção dos candidatos por tentar iludir os votantes com promessas vazias, vestindo a fantasia de salvadores da pátria. Não por acaso, o Brasil vive à beira do precipício.
Em vez de enganarem os eleitores, os candidatos, incluindo o atual presidente, devem explicitar, o quanto antes, quais são seus planos para o Brasil, sobretudo em duas frentes, economia e saúde. O país está mergulhado na estagnação econômica, com inflação alta e chance de o Produto Interno Bruto (PIB) despencar ladeira abaixo. A pandemia, por sua vez, não dá trégua. A nova onda de covid, agora sustentada pela variante ômicron, voltou a lotar os hospitais. E o negacionismo continua presente.
Pelo que já se conhece do atual chefe do Executivo, pouca coisa de novo vai surgir no discurso rumo à reeleição. Há, por sinal, o temor de que ele radicalize nas questões ideológicas e não se acanhe em abrir os cofres de olho nos votos que lhe garantam mais quatro anos de poder. Tanto que a possibilidade de uma grave crise fiscal está no radar de todos os analistas. No caso dos demais potenciais candidatos, as dúvidas são maiores, com alguns deles falando em revogar reformas já consolidadas.
Em vez de propostas populistas, aqueles que pleiteiam o cargo mais importante do país deveriam apresentar programas consistentes que tragam de volta a confiança de que o Brasil tanto precisa para voltar a crescer sem inflação. Entre 2011 e 2020, a taxa média de crescimento do PIB foi inferior a 1% ao ano. Esse resultado pífio elevou o desemprego e recolocou o país no mapa da fome. Quase 20 milhões de pessoas não têm o que comer. Pelo menos 100 milhões vivem em insegurança alimentar.
Somente um longo período de crescimento a taxas acima de 3% ao ano pode reverter esse quadro dramático. Mas isso passa por uma questão básica: credibilidade. É essa palavra mágica que trará de volta os investimentos necessários para incrementar a produção e o consumo e, por consequência, o emprego e a renda. Recursos não faltam no mundo em busca de bons projetos. E potencial o Brasil tem de sobra. Contudo, os donos do dinheiro precisam de previsibilidade, de que o ambiente de negócios será favorável e de que não haverá estripulias na política econômica.
O país já perdeu tempo demais. O pessimismo impera em todos os segmentos produtivos. Que as eleições sirvam para espantar o medo e a insegurança. Os eleitores, é verdade, costumam definir os votos às vésperas de irem às urnas. Mas que os debates sobre o Brasil que teremos não se resumam a ataques pessoais e à disseminação de notícias falsas. Que a disputa também não desemboque, ante a assustadora polarização que divide o país, para o caos visto um ano atrás nos Estados Unidos, com a invasão ao Capitólio, templo da democracia norte-americana. Será um erro enorme abrir uma ferida tão contundente num país com tantos desafios e problemas. Que todos estejam em alerta.