Desafiador período para a economia brasileira, 2022 trouxe a boa nova da melhora dos níveis de armazenamento de água em grandes e vitais reservatórios das usinas hidrelétricas do Sudeste, embora num contraponto de aterradores temporais. O país assistiu a mortes provocadas por enchentes históricas, que deixaram milhões de desabrigados, sobretudo na Bahia e em Minas Gerais.
Na terça-feira, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) retratou um começo de ano com elevação expressiva do volume da represa de Furnas, de 32,75% de sua capacidade, pouco menos do dobro da marca observada no fim de agosto de 2021. Àquela época, era a seca que castigava o país, fazendo com que a hidrelétrica operasse ao nível de 17,47% de sua capacidade.
É também digna de nota a reversão dos níveis de armazenamento dos reservatórios de Três Marias, que evoluiu de 49,51% para 59,12% de sua capacidade nesse intervalo de quatro meses; Emborcação, de 11,72% a 21,31%; e Nova Ponte, de 11,95% para 17,12%. Em agosto do ano passado, a acumulação de água nessas e em outras barragens localizadas em Minas Gerais, uma espécie de caixa d'água do Brasil, era inferior a 20%, em média.
Contudo, a elevação dos níveis de armazenamento não significa que haverá descanso para a população que passou todo o ano passado tentando administrar o alto custo da energia elétrica no orçamento. Fatores importantes perpetuam com fôlego suficiente a pressão dos preços do insumo no custo de vida do brasileiro, escancarando, em tempo de altíssima precipitação e chuvas intensas, problemas antigos, como a dependência da energia hidráulica, e, portanto, do clima, em quase 65% da matriz energética do país.
Foi o então presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, Anivaldo de Miranda Pinto, quem bem resumiu em entrevista ao jornal Estado de Minas a situação do país. "Por falta de planejamento e vontade política, o Brasil não se preparou para este século de agravamento do aquecimento global", afirmou. Ele não está sozinho na avaliação. Analistas do setor têm alertado que, a despeito da elevação do nível de armazenamento dos reservatórios das hidrelétricas, as contas de energia vão continuar chegando ao consumidor elevadas e não devem deixar o carro-chefe dos vilões da inflação de 2022.
A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) estimou a necessidade de adoção, neste ano, de reajuste tarifário de 21,04% para que sejam cobertos os custos da crise hídrica, os quais levaram o governo a tomar medidas para evitar o racionamento de energia. A força dessa correção, neste ano, fica evidente quando comparada à evolução dos gastos com as contas de luz em 2021. Na Grande Belo Horizonte, representa o dobro da variação de 11,03% que as famílias tiveram de bancar no ano passado, de acordo com a pesquisa do IPCA, índice oficial da inflação medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Para as famílias da Região Metropolitana de Brasília, significa outro baque tão grande quanto o de 2021, período em que a evolução observada pelo instituto foi de 23,39% do preço do insumo. Na média do Brasil, a energia elétrica ficou 20,60% mais cara.
Aquelas ações consideradas emergenciais pelo governo resultaram em R$ 69 bilhões que os consumidores brasileiros terão de pagar dentro de cinco anos. A cifra envolve os empréstimos para financiar o fornecimento de energia, incluindo a importação do insumo da Argentina e do Uruguai, além do acionamento da energia mais cara das usinas termelétricas. Todo esse custo foi embutido na chamada conta da escassez hídrica.
Embutidas na conta de luz, o consumidor vai pagar até 2025 parcelas do socorro prestado às distribuidoras por causa dos efeitos da covid-19. As justificativas não param por aí e só reforçam o alerta para que as famílias tentem racionalizar o consumo no que for possível. A Aneel diz que avalia medidas para amenizar o impacto do tarifaço em 2022. Que elas venham, fugindo à tônica da falta de planejamento que tem afetado o setor elétrico ano após ano.