JUVENAL ARAÚJO - Subsecretário de Direitos Humanos e Igualdade Racial
Ei, psiu! Você mesmo, que está lendo o jornal agora. Acredita que teremos um 2022 mais tranquilo? Como estão suas expectativas para este ano que se inicia? Com sentimentos misturados de esperança e retórica, acredito que um novo ciclo próspero e feliz só depende de cada um de nós.
Já se imaginou em um país com igualdade de direitos, valorização da vida, protagonismo de mulheres e homens negros, preservação das comunidades de povos tradicionais e de terreiros, fim do desemprego e da pobreza, garantia dos direitos dos trabalhadores, proteção à infância? Que outras benesses colocaria nesse pacote? E o que seria capaz de fazer para vivermos em um Brasil mais justo e igualitário?
Esse é um modelo de sociedade que dialoga com a fraternidade, com a justiça social, com garantia aos direitos constitucionais, políticos, econômicos, sociais e culturais para todos. Para negros e não negros. Se você é do time que acredita que hoje "há racismo em tudo", sinto lhe informar que na verdade sempre houve. A situação de agora é que estamos vivendo em tempos de engajamento contínuo dessa pauta racial, justamente para ampliar e qualificar o debate a partir de uma perspectiva afirmativa.
E eu convido você, caro leitor, a dar um passo revolucionário, humanitário, transformador. Reconheça ser racista. Parece estranho, mas assumir esse racismo estruturado e entranhado individualmente ajudará a sociedade a se movimentar de forma consistente e decisiva para a tão sonhada igualdade racial. Esse é um dos principais desafios para a pauta racial e consequentemente para o desenvolvimento do Brasil.
Negar o racismo nos mantém reféns de um sistema violento e excludente. A negação naturaliza a opressão como prática normal do dia a dia, como se nenhuma mudança estrutural fosse urgente e necessária ou ainda que a luta racial seja uma obrigação apenas do negro, mas é uma tarefa de todos nós. Temos um compromisso moral e histórico de nos corrigir de maneira ampla e coletiva, por meio da conscientização e adoção de políticas antirracistas, a fim de diminuir as desigualdades raciais e sociais do Brasil.
Não é uma transformação fácil de ser feita, diante dos 300 anos de escravização do povo negro no Brasil. Mudar significa reconhecer e abrir mão dos privilégios historicamente garantidos à parcela branca da sociedade. A herança de vantagens deixadas por nosso passado escravagista precisa deixar de existir e o acesso aos bens sociais, educacionais, profissionais, políticos precisam ser compartilhados em prol do bem comum.
Utilize suas redes sociais como instrumento contra as injustiças cometidas contra grupos sociais mais vulneráveis; converse abertamente de forma respeitosa com sua família, amigos e ambiente de trabalho e construa uma imagem pública real de que é um racista em desconstrução, mostre a eles a importância de respeitar a existência e a humanidade de pessoas negras; eduque as crianças para não reproduzirem racismo recreativo ou estereótipos negativos, crie cidadãos capazes de respeitar as diferenças; apoie e principalmente não cometa fraudes contra as políticas públicas afirmativas; não naturalize violências; incentive a equidade proporcional de negros na empresa em que você trabalha, acredite que todos só terão a ganhar com um ambiente mais democrático e produtivo; não seja complacente com a ausência de representatividade negra nos espaços de poder; se informe, leia, consuma e valorize a rica produção de intelectuais negros; ajude o Estado a combater violências contra as principais vítimas de homicídio, feminicídio que infelizmente são as mulheres negras; se encontrar alguém que esteja sendo vítima de violência racial, o defenda e o encaminhe aos serviços de proteção.
São muitos os desafios. Mas não é possível haver democracia em uma sociedade racista. Coloquemos em prática esse ideal antirracista. Todos juntos: Estado e sociedade pela promoção da igualdade racial e construção de um mundo melhor. Teremos um ano inteiro de oportunidades para exercer nossas responsabilidades, reconhecer a importância dessas resistências e acreditar que só será possível enfrentar e vencer o racismo com políticas públicas efetivas e permanentes.