A quarta onda da pandemia de covid-19, com predomínio da variante ômicron, já é uma realidade na Europa, na Ásia e, principalmente, nos Estados Unidos, que estão registrando 1 milhão de casos por dia, um número espantoso. Embora considerada menos letal, talvez até por causa do grande número de pessoas já vacinadas, a nova onda está impactando os sistemas de saúde de todos os países onde ocorre. Não será diferente aqui no Brasil. Entretanto, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, parece mais preocupado em criar obstáculos para a vacinação em massa de crianças e adolescentes, que são um vetor de transmissão doméstica do vírus, do que preparar o Sistema Único de Saúde (SUS) para o impacto dessa quarta onda, cuja transmissão comunitária já ocorre no Brasil, simultaneamente à epidemia de influenza (H3N2), que pegou a população e o sistema de saúde desprevenidos.
Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), ao contrário do que afirmou recentemente o ministro, o número de hospitalizações e de mortes motivadas pela covid-19 na população pediátrica, incluindo o grupo de crianças de 5 a 11 anos, não está em patamares aceitáveis. Nossas taxas de mortalidade e de letalidade em crianças estão entre as mais altas do mundo. A covid-19 vitimou mais de 2.500 crianças e adolescentes, sendo mais de 300 delas confirmadas no grupo de 5 a 11 anos, além de causar milhares de hospitalizações. A covid-19 em crianças pode ocasionar a chamada Síndrome Inflamatória Multissistêmica, um quadro grave de tratamento hospitalar e que se manifesta semanas após a infecção pelo Sars-CoV-2. Já foram confirmados mais de 1.400 casos dessa síndrome em crianças no país, com mediana de idade de 5 anos, com efeito letal em pelo menos 85 crianças e sequelas neurológicas, cardiovasculares e respiratórias em muitas outras.
O ministro Marcelo Queiroga, que é cardiologista, insiste na adoção de medidas sem sentido, como a exigência de pedido médico para as vacinas, em vez de agilizar a aquisição das mesmas e providenciar a estrutura logística necessária para que as crianças e adolescentes sejam vacinadas antes do início do período letivo. O que vai acontecer em caso de atraso? Nossas crianças serão mais uma vez prejudicadas, pois não poderão participar de aulas presenciais com segurança. O resultado sabemos: queda nos indicadores de aproveitamento escolar, principalmente nas escolas públicas.
As principais autoridades sanitárias do país, entre as quais a Anvisa, e os especialistas da área — infectologistas, pediatras, virologistas, etc — têm se manifestado a favor da urgente vacinação das crianças e adolescentes. De igual maneira, têm advertido que a população não deve baixar a guarda e abandonar as medidas de precaução necessárias para conter a transmissão da covid-19, como evitar aglomerações, higienizar as mãos e usar máscaras em todo ambiente coletivo. O número de óbitos está em queda, mas a transmissão aumenta, congestionando postos de saúde e enfermarias, já impactadas pela epidemia de gripe.