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Artigo: Última sessão?

"Se Deus tivesse voz seria a de Milton Nascimento", disse certa vez Elis Regina, exaltando o instrumento de trabalho de um dos mais icônicos cantores da música popular brasileira. O que os frequentadores de casas noturnas de Belo Horizonte já admiravam, na primeira metade da década de 1960, foi descoberta pelo país ao ouvi-la na interpretação de Travessia, segunda colocada na segunda edição no Festival Internacional da Canção.

O ano era 1967 e a partir dali Milton Nascimento passou a formar ao lado de Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Edu Lobo e Paulinho da Viola a mais talentosa geração de criadores da MPB. Mas não é só isso. Bituca — como o mais mineiro dos artistas cariocas é chamado pelos amigos — liderou o Clube da Esquina, movimento de sonoridade inovadora, que trouxe em sua essência a fusão de elementos de estilos diversos como bossa nova, jazz, rock, beatle songs e barroco das minas geraes.

A obra requintada de Milton, registrada em mais de 30 discos, reúne clássicos da importância de Cais, Maria Maria, Nada será como antes, Paula e Bebeto e San Vicente e a já citada Travessia. Tem mais: canções de sua autoria já foram gravadas por artistas nacionais — do parceiro Lô Borges a Gal Costa — e internacionais, entre eles Paul Simon, Herbie Hancock e Waine Shorter.

Depois de celebrar o cinquentenário do Clube da Esquina, recentemente, com um concerto no Teatro de Juiz de Fora — cidade onde mora atualmente —, acompanhado por sua banda e a Orquestra de Ouro Preto, Milton Nascimento prepara-se para comemorar em 2022 os bem vividos 80 anos, com um show que cumprirá longa turnê pelo país, que deve passar por Brasília. A última sessão de música é o enigmático título do espetáculo, no qual fará uma espécie de retrospectiva da carreira. Ele não deixou explícito ao anunciá-lo, mas há quem acredite que poderá ser a despedida dos palcos da voz que soa divina.