Opinião

Artigo: Pandemia e crise econômica no DF

Correio Braziliense
postado em 25/01/2022 06:00

ANDREA CABELLO - Professora de economia da UnB e pesquisadora do ObservaDF

LUCIO RENNÓ - Professor de ciência política da UnB e pesquisador do ObservaDF

Não há dúvida de que as principais vítimas da covid-19 são as pessoas que perderam a vida, as famílias dos que partiram e aqueles que sofrem com sequelas. Mas a pandemia também afetou econômica e socialmente a vida de outros milhões. Precisamos pensar sobre esse lado da crise sanitária, principalmente entre os mais vulneráveis. Em seu estudo inaugural, o ObservaDF — Observatório de Políticas Públicas do Distrito Federal (https://observadf.org.br/) dedicou sua atenção justamente a esse tema.

No Distrito Federal, o setor de serviços, que inclui o comércio, representa cerca de 95% da economia. Nas Regiões Administrativas de baixa renda e nos municípios do Entorno, as principais oportunidades de emprego estão no comércio e em serviços menos elaborados. Como a participação de outros setores é limitada, a população residente nessas regiões foi desproporcionalmente prejudicada pela restrição de atividades presenciais, muitas delas impossibilitadas de adotar o trabalho remoto.

A taxa de desemprego local reflete essas questões, com impacto diferenciado sobre nível de renda, regiões, gênero e idade. As populações de baixa renda do DF apresentaram taxas de desemprego quase 15 pontos percentuais superiores às taxas da população de renda média-alta. Essa diferença tem se reduzido, mas ainda reflete uma distribuição desigual das perdas provocadas pela pandemia.

Em relação à taxa de desemprego de homens e mulheres, a participação desses dois grupos na população economicamente ativa é similar. Entretanto, observamos uma maior parcela das mulheres entre os desempregados, uma vez que a taxa para elas é cerca de cinco pontos percentuais superior à dos homens.

Também é importante observar que o desemprego é especialmente alto entre os jovens, chegando a quase 50% para essa faixa etária no início da pandemia, o que tende a potencializar o fenômeno dos nem-nem, aqueles que nem trabalham nem estudam. Atualmente, o percentual de jovens nessa situação é considerável — algo entre um terço e um quarto deles —, com uma maior participação de mulheres nesse grupo.

Observa-se que a crise econômica provocada pela pandemia está associada a padrões de desequilíbrios que a economia do DF apresentava antes mesmo da crise. Já havia uma situação de vulnerabilidade maior para populações residentes em regiões mais pobres, onde as oportunidades de emprego locais se concentram no setor de serviços pouco complexos e no comércio, em que vínculos empregatícios têm menor estabilidade trabalhista. Essa constatação sugere que há, no DF, uma vulnerabilidade estrutural para essas populações, problema que ganhou maior evidência com a pandemia.

Dessa forma, torna-se urgente o reconhecimento da necessidade de políticas não apenas emergenciais, mas, também, que modifiquem em médio e longo prazos, a situação dessas famílias. Isso inclui não somente a ampliação, nos momentos de crise, dos projetos de transferência de renda já existentes, importantes para impedir interrupções no processo de recuperação econômica.

Também se faz necessário o estabelecimento de iniciativas voltadas para a capacitação e a inserção no mercado de trabalho de um grupo de trabalhadores que se viu excluído, temporariamente, da economia. Só o compromisso do Estado e da sociedade, com uma forte inversão de prioridades para os mais pobres, fará o DF alterar seu quadro de desigualdades extremas e persistentes.

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