Opinião

Tony Volpon: Por que a economia não cresce?

Correio Braziliense
postado em 21/01/2022 06:00
 (crédito: Caio Gomez)
(crédito: Caio Gomez)

TONY VOLPON - Estrategista chefe da Wealth Hight Governance (WHG), foi diretor do Banco Central

A economia brasileira esqueceu como crescer. Isso é algo impressionante quando lembramos que a nossa economia foi uma das que mais cresceram no mundo no período pós-guerra até os anos 1980. O desastre da última década espanta: entre 2011 e 2021, o PIB per capita ajustado pela inflação caiu 5,4%, performance pior que durante a década perdida dos anos 1980, designação para o período financeiro de crise na América Latina vivida na época. Imagino que, para a grande maioria das pessoas, a resposta para a pergunta por que o Brasil não cresce é bastante óbvia. Todos parecem ter a resposta na ponta da língua.

Para muitos com uma visão mais liberal, nossa falta de crescimento é fruto de uma série de falhas institucionais e um Estado grande, gerando um desequilíbrio fiscal perene. Para aqueles com visão mais progressista, a falta de crescimento vem de uma postura fiscal que tem, cada vez mais, penalizado o investimento público e uma política econômica que tem levado à progressiva desindustrialização da economia.

O que eu gostaria de argumentar aqui é que, na verdade, a resposta não é, de fato, tão óbvia. Quando olharmos um conjunto de mudanças e eventos dos últimos anos, a falta de crescimento acaba sendo, senão misteriosa, pelo menos bem mais complexo do que parece à primeira vista.

Começamos com uma comparação. Vamos admitir que boa parte dos fatores, normalmente citados para descrever o baixo crescimento da economia brasileira, sejam verdadeiros. Mas também é verdade que muitos desses fatores são compartilhados por outras economias emergentes, especialmente no nosso continente. Por exemplo, a desindustrialização é um fenômeno que tem ocorrido em várias economias latinas. Outro exemplo seria a instabilidade macroeconômica, algo comum na nossa região.

Todos esses fatores em comum deveriam levar a uma alta correlação do crescimento da região, mas não é isso que observamos. Olhando para Brasil, Argentina, Chile, México, Peru e Colômbia, desde dezembro de 2009 até hoje (assim, incluindo o ano de 2010, quando o Brasil cresceu 7,5%), vemos que o Brasil teve, de longe, o pior crescimento da região.

Para aqueles que acham que a instabilidade fiscal/monetária é uma das grandes causas da falta de crescimento, notamos que a Argentina cresceu 11,8%, contra avanço de 4,2% do Brasil. A comparação com os países andinos, muitos deles com vários episódios de instabilidade política, é uma vergonha: a Colômbia cresceu 47,5% e o Peru 54,3%. O Chile, que também tem tido recentes episódios de instabilidade política, cresceu 48%. Até o México, que ostenta uma economia altamente concentrada e de baixa produtividade, cresceu 19,8%. Houve também nesses últimos anos muitas reformas e mudanças na nossa economia que deveriam ter contribuído para um crescimento maior.

Apesar das reclamações usuais contra nosso sistema político, várias reformas têm sido aprovadas nos últimos anos. Na questão fiscal, tivemos a aprovação da regra do teto dos gastos em 2016, que disciplinou o crescimento de gastos, e que, somente agora, sofre questionamentos mais severos com as decisões tomadas nos últimos meses. Houve a reforma da Previdência, que derrubou fortemente o gasto com essa rubrica. Tivemos também várias reformas setoriais e, se não foram feitas muitas privatizações, houve uma série de concessões em vários setores.

Houve outros fatores que deveriam ter ajudado o crescimento. Desde 2011, o Brasil recebeu US$ 801 bilhões em investimentos estrangeiros diretos, uma das maiores cifras do mundo. Nossa taxa de investimento médio, desde 2011, foi de 17,8% do PIB, não muito diferente do período 2000-2010, quando investimos 18,2%. Entre 2017 e 2021, houve R$ 412 bilhões de emissões de títulos nos mercados de capitais, contra R$ 295 bilhões entre 2010 e 2014 (dados ajustados pelo IPCA). E talvez o mais importante: entre 2011 e 2021, a taxa real de juros foi de 2,8%, contra 8,4% entre 2000 e 2010.

O mistério da falta de crescimento fica evidente quando consideramos esse conjunto de fatos. Eu tenho algumas hipóteses (mas muitas dúvidas) para explicar nossa misteriosa falta de crescimento, mas seria muito salutar, especialmente neste ano eleitoral, que nossos economistas, de todos os campos ideológicos, tivessem um pouco mais de humildade nessa questão para nos ajudar a sair das respostas prontas, e ter um verdadeiro e construtivo debate.

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