Opinião

Orlando Thomé Cordeiro: Tudo ainda pode mudar

Correio Braziliense
postado em 14/01/2022 06:00
 (crédito: Caio Gomez)
(crédito: Caio Gomez)

ORLANDO THOMÉ CORDEIRO - Consultor em estratégia

Na quarta-feira, foi divulgada mais uma rodada da pesquisa Genial-Quaest, que traz algumas poucas novidades ao lado de importantes indicações. A avaliação do governo continua apontando uma desaprovação de 50%, mas os recortes por gênero, idade, escolaridade, renda familiar e região trazem dados que merecem um olhar atento.

Junto ao público feminino, a avaliação negativa chega a 55% enquanto entre os homens é de 44%. Entre jovens até 24 anos, a desaprovação é também de 55% e, nas demais faixas etárias, fica em torno de 50%. Entre os que têm ensino superior, 54% não aprovam e, nos outros níveis de escolaridade, fica em torno de 50%. Para quem tem renda familiar menor que dois salários mínimos e entre dois e cinco salários mínimos, ainda que seja um alto percentual de desaprovação (52% e 48%, respectivamente), a curva é descendente. A mesma tendência de queda aparece nas regiões Norte (42%) e Nordeste (56%), sendo que, nas outras três regiões, a desaprovação continua crescendo, chegando a 48%-49%. O que podem explicar esses números?

Entre as mulheres, 61% consideram negativa a forma como o presidente está lidando com a pandemia, problema que aparece em tendência de crescimento na preocupação da população. Ou seja, isso ajuda a entender a maior desaprovação no segmento. Por seu lado, a melhora de cenário para ele nas regiões Norte e Nordeste pode estar associada ao início do pagamento do Auxílio Brasil. Essa hipótese ganha força porque a pesquisa mostra aumento de 3% na sua aprovação entre quem recebe até dois salários mínimos e tem alguém na família recebendo auxílio ou Bolsa Família.

Sobre as eleições, quanto à intenção de voto espontânea, chama a atenção o alto número de indecisos (52%), revelando o pequeno interesse da população pelo tema. Apenas quatro candidatos são citados: Lula (23%), Bolsonaro (16%) Moro (1%) e Ciro (1%). Na resposta estimulada, Lula (45%) e Bolsonaro (23%) seguem liderando, muito distantes do ex-juiz Sergio Moro, consolidado na terceira posição com 9%, quase o dobro de Ciro (5%) e o triplo de Doria (3%).

Quando é perguntado quem a pessoa prefere que ganhe as eleições, Lula está em primeiro com 44%, seguido por 26% que não querem nem Lula nem Bolsonaro e o presidente em terceiro com 23%. Na pergunta acerca de conhecimento e chance de voto, é possível identificar os níveis de rejeição: Bolsonaro (66%), Doria (60%), Moro (59%), Ciro (58%) e Lula (43%).

Em relação à segunda opção de voto, Ciro aparece com 18% e Moro com 14%. Mas, ao se fazer o cruzamento com cada uma das primeiras opções, o ex-juiz aparece à frente de Ciro entre eleitores dos demais candidatos, à exceção dos eleitores de Lula. Porém, até mesmo nesse estrato, Moro aparece com 10% como segundo voto.

Os principais problemas identificados, de forma agregada, foram: economia (37%), saúde/pandemia (28%), questões sociais (13%) e corrupção (9%). Ao cruzar os temas com as intenções de voto, Bolsonaro lidera entre quem aponta a corrupção (36%), seguido de Lula (32%) e Moro (10%). Curioso ver que não se confirmou a expectativa de Moro ter o maior percentual nesse quesito. Nos demais temas, a liderança é de Lula, com Bolsonaro em segundo e Moro em terceiro. Ao desagregar o tema economia, desemprego lidera com 17%, crescimento econômico com 10% e inflação aparece apenas com 9%. No caso das questões sociais fome/miséria está com 9%, pobreza/gente nas ruas com 1% e habitação com 0%.

Para as perguntas relativas à economia como um todo, 66% responderam que a situação piorou em 2021. A expectativa de melhora em 2022 corresponde a 43% das respostas, mas aqui, novamente, há uma diferença relevante: entre os homens o índice sobe para 49% e entre as mulheres não passa de 38%.

Depois de analisar detidamente o excelente relatório da Quaest, é possível fazer algumas inferências, principalmente ao combinar as respostas sobre economia, pandemia e intenção de voto, sendo mandatório observar que há um percentual significativo de eleitores desejando uma candidatura alternativa à dos atuais líderes.

Nesse sentido, o nome que ainda aparece com mais chances é o do ex-juiz, mesmo que atualmente seus percentuais não cheguem a dois dígitos. Entretanto, como ainda estamos a 10 meses do pleito, não se pode descartar a hipótese de um crescimento de Moro. Se, nos próximos três meses, ele conseguir dar uma virada estratégica em sua campanha de modo a alcançar números próximos de 20%, poderá provocar o início de uma onda forte de migração, atraindo boa parcela dos 26% que indicam não quererem Lula nem Bolsonaro. Afinal, tudo ainda pode mudar.

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