A inflação oficial medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechou 2021 com alta duas vezes e meia maior do que a meta de 3,75%, fixada para o ano e muito acima do teto de 5,25%. O índice de 10,06% é ainda o maior registrado desde 2015, período da crise econômica aguda no governo de Dilma Rousseff, que levou o país a uma recessão da história. Naquele ano, a inflação chegou a 10,67%. Assim como em 2015, agora, o presidente do Banco Central teve que enviar uma carta ao ministro da Economia para explicar o não cumprimento da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), e a justificativa incluiu o fato de a inflação ser um fenômeno global, em função dos efeitos da pandemia de covid-19 sobre os preços, e a crise hídrica
Por um lado, está certo, porque os desarranjos nas cadeias produtivas e o aumento da demanda, com a retomada das atividades, pressionaram os preços em todo o mundo e levaram países, como Estados Unidos e Alemanha, a registrar as maiores taxas de inflação em décadas. Por outro, não totalmente. A explicação para os aumentos de preços é tacanha diante de altas expressivas em produtos dos quais o país é grande produtor e/ou exportador, como etanol (alta de 62,23%), café moído (50,24%), frango em pedaços (29,85%) e em itens que têm preços administrados, como gasolina (47,49%), óleo diesel (46,04%), gás de cozinha (36,99%) e energia elétrica residencial (21,21%), para lembrar de alguns. Se, em parte a explicação está num fenômeno global, há também uma parcela de responsabilidade do governo, que não adotou nem uma medida para mitigar os reajustes expressivos de preços que corroem a renda da população, que não tem os salários reajustados na mesma proporção. A inflação empobrece a sociedade.
O Ministério da Economia deixou o combate à inflação a cargo exclusivamente da política monetária do Banco Central, que dispõe apenas da elevação das taxas de juros. Ao aumentar a Selic, deveria haver impacto sobre o câmbio e sobre a demanda, desaquecendo a economia, por um lado, e favorecendo a atração de dólares para o país, por outro, reduzindo, assim, a desvalorização do real ante a divisa dos Estados Unidos. O câmbio não cedeu, e a gasolina e o óleo diesel vão ficar mais caros a partir de hoje. Ou seja, em 2022, a inflação continuará alta, embora com ritmo de aceleração menor.
A inércia do governo diante dos aumentos de preços explica boa parte do estouro da meta de inflação no ano passado. Não se advoga intervenção em preços ou travas na economia, mas é preciso lembrar que é do Executivo a responsabilidade de proteger os cidadãos, o que inclui resguardar o poder de compra da moeda. A maioria dos trabalhadores não conseguiu repor a renda, corroída pela carestia. Para conter a alta dos alimentos, o governo poderia reativar estoques reguladores, que, sim, têm custos para os cofres públicos, mas esse seria o preço a se pagar para conter os aumentos de produtos agrícolas, mantendo parte da produção hoje destinada ao mercado externo nos armazéns do país para abastecer a demanda doméstica.
E, no caso dos combustíveis, mais do que culpar outros governos ou estados pela alta dos preços, ou mesmo enxergar na Petrobras o problema, o governo de Jair Bolsonaro e sua equipe econômica deveriam buscar uma alternativa para se amortizar a necessidade de reajuste dos preços nas bombas, o que pode ser feito com um fundo constituído com os dividendos que a estatal distribui anualmente para o sócio majoritário. Esses recursos serviriam para amortecedor as oscilações do preço do petróleo no mercado internacional e do dólar. O fundo permitiria a estabilização dos valores. É preciso que o governo se mova para frear a inflação, um imposto pesado demais para a parcela menos favorecida da sociedade.
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