MOZART NEVES RAMOS - Titular da Cátedra Sérgio Henrique Ferreira da USP de Ribeirão Preto e professor emérito da Ufpe
O ano de 2021 se foi, sem deixar saudades. Tínhamos a esperança de que começaríamos o ano escolar no ensino presencial, mas não foi isso que aconteceu. O atraso na vacinação e a chegada da variante delta impediram o retorno presencial na grande maioria das escolas públicas brasileiras. O primeiro semestre escolar foi ainda por meio do ensino remoto. Como milhões de estudantes não tinham como acessá-lo, especialmente nas regiões Norte e Nordeste, ficaram sem praticamente realizar atividades escolares. Um desastre educacional: retrocesso gigantesco na proficiência escolar, aumento da desigualdade educacional e do abandono escolar. Mas, graças à ciência e aos esforços das unidades federativas, com o forte apoio dos meios de comunicação, a ignorância foi vencida, e a vacinação prosperou em nosso país. Com isso, o segundo semestre foi gradualmente iniciado já com algumas atividades presenciais combinadas às remotas, dando origem ao ensino híbrido.
Criança gosta de estar com criança, jovem gosta de estar com jovem, de se relacionar, o que é típico da natureza humana, e a escola possibilita a construção de tais relações. A escola é um ambiente muito rico para a construção de "pontes", muitas vezes para o resto da vida. Por isso, não é à toa que a "educação a distância" se inclui nas lembranças das quais os nova-iorquinos querem se livrar, conforme cartas queimadas na Times Square para se despedir das memórias pandêmicas de 2021.
O ano de 2022 chega com grandes desafios pela frente. Como disse o padre Júlio Lancellotti em seu belo texto "Esperança e resistência", este será um ano para apoiar quem desmaiou de fome, buscou comida no lixo e teve seus direitos desprezados. Junta-se a esses o desafio de trazer a escola de volta, uma escola plena, que possa cada vez mais nos ensinar a amar a pequenez, como disse o santo papa Francisco na homilia da missa do galo, como um caminho para a verdadeira grandeza e para redescobrir as pequenas coisas — um chamamento a toda a sociedade para a busca de uma vida mais humilde.
Com certeza teremos uma nova escola, que entendeu que as novas tecnologias podem ser grandes aliadas no processo de ensino e de aprendizagem, especialmente para vencer os grandes deficits deixados pela pandemia. Vamos precisar como nunca exercer o espírito de colaboração entre escolas, entre gestores, entre professores e alunos — não apenas para trocar experiências exitosas, mas para romper com velhas práticas. Se, por um lado, o desafio é gigantesco, por outro se abrem muitas janelas de oportunidades para promover a inovação no ambiente escolar. Professores e alunos tiveram de se reinventar com a pandemia. Vamos fazer disso um exercício permanente e dar um não definitivo à acomodação. Gosto muito de uma frase de Richard Hamming, matemático americano já falecido, que dizia que o professor deveria preparar o aluno para o futuro do aluno, e não para o passado do professor. É uma frase que estimula todos nós, professores, a olhar sempre para o aluno, a prepará-lo para viver o seu mundo e não o nosso, pois o presente é o passado do futuro.
O ano de 2022 será o ano da implementação do novo ensino médio, que promoverá a flexibilização e a educação integral. Espera-se que seja também o ano da aprovação e promulgação de uma lei que assegure a construção de um Sistema Nacional de Educação, fortalecendo a colaboração e a responsabilização dos entes federados na oferta de uma educação de qualidade e inclusiva. Por seu lado, 2022 também será um ano político, de eleições nas esferas federal e estadual, o que sempre traz um desafio adicional para a execução das boas políticas públicas, especialmente no campo da educação.
Sou um realista esperançoso, como dizia o saudoso Ariano Suassuna, por acreditar que, não obstante os inúmeros desafios que teremos pela frente, podemos ter a oportunidade de agir de forma diferente, de aprender com os nossos erros e de contribuir para que as crianças e os jovens deste país possam voltar a sorrir e a ter esperança no futuro. E, para isso, nada melhor do que ter a escola de volta.
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