Em 6 de janeiro de 2021, milhares de extremistas de direita — entre eles, um homem fantasiado com chifres na cabeça, rosto pintado e autodenominado "Xamã Qanon" — apontaram uma arma para uma das mais sólidas democracias do planeta. A invasão ao Capitólio, sede do Congresso norte-americano, por parte de simpatizantes do ex-presidente republicano Donald Trump feriu o Estado de Direito e ameaçou a soberania popular. A agressão aos pilares dos EUA foi um gesto indefensável de vandalismo e banditismo, digno de marginais abastecidos pelo fanatismo político e ideológico. O dia de hoje é um convite ao mundo para a reflexão sobre um dos principais valores que garantem a nossa liberdade enquanto cidadãos: o direito de termos um governo eleito pelo povo e que deve governar para o povo.
É nossa obrigação zelarmos pelo primado da democracia. Sem ela, abre-se espaço para a tirania, a corrupção, a violação de direitos humanos e civis fundamentais. É inadmissível que um bando minoritário e enlouquecido de trogloditas queira impor sua vontade a milhões de cidadãos. No Brasil, o próprio presidente Jair Bolsonaro e seus asseclas deram mostras recorrentes de desprezo pela via democrática, com ameaças de fechamento do Supremo Tribunal Federal, com um desastroso e caricato desfile de tanques de guerra diante do Congresso (com anuência vergonhosa das Forças Armadas) e com um saudosismo acéfalo pela ditadura. Creem que o sol da liberdade brilhará sob porrete, cassetete e pau-de-arara.
Entramos em ano eleitoral. Mais do que nunca, o sistema de freios e contrapesos que guarnece a nossa democracia precisa manter vigilância máxima e coibir excessos. Corremos o risco de uma reedição dos eventos de 6 de janeiro de 2021 no Congresso Nacional ou no Supremo Tribunal Federal. É preciso que as autoridades sensatas façam gestos arrazoados que blindem a nossa democracia das viúvas da ditadura e dos "cidadãos de bem" que preferem o fanatismo cego à claridade da moderação.
Que todos sejamos guardiões da democracia, antes que precisemos chorar a completa restrição das liberdades ou o desaparecimento forçado de nossos familiares e amigos. Cabe a nós tolher toda e qualquer agressão ao Estado de Direito, e promover o voto universal e a alternância de poder. Cabe a nós assegurar que o resultado das urnas, em outubro, seja acolhido com civilidade e plenitude. Caso contrário, seremos lançados nas trevas do obscurantismo e da tirania. E, de tiranos, o mundo está farto.
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