Artigo

A sonegação do marketplace e o consumo consciente

Correio Braziliense
postado em 02/01/2022 06:00

VALDIR OLIVEIRA - Superintendente do Sebrae/DF

As plataformas digitais chegaram para ficar. A pandemia consolidou as relações entre empresa e consumidor por meio desses canais que trouxeram a comodidade como fator determinante na decisão de consumo. As grandes marcas que são proprietárias dessas plataformas se consolidaram e ganharam credibilidade junto aos consumidores com preços muito competitivos. A pandemia e o risco sanitário mantiveram fechado por um tempo o pequeno varejo, deixando livres as plataformas que avançaram no consumo, tendo benefícios de empregos e impostos longe de Brasília, muitas vezes em outros países, aproveitando-se da nossa renda. Enquanto isso, nosso varejo tenta sobreviver com custo de estrutura física, encargos trabalhistas e impostos, enfrentando ainda a perda de faturamento, fruto de concorrência das plataformas digitais que hoje alcançam consumidores em todos os lugares do mundo, inclusive aqui em nossas regiões administrativas.

A conectividade facilitou a realização de negócios entre consumidor e fornecedor. Basta ter acesso à internet, um celular e um cartão de crédito para comprar em uma plataforma digital. Isso é o marketplace. É assim que essas plataformas estão avançando na base de clientes do varejo formada pelos pequenos negócios com suas lojas físicas. A cada dia, os pequenos negócios estão perdendo seus clientes para essas plataformas digitais, porque não conseguem competir com o portfólio de produtos, a comodidade da venda e, principalmente, o preço. Por esses canais é muito fácil a comparação de preços. Em um momento em que a população tem perdido o poder de compra, o preço é fator decisivo na compra.

A formação de preço é o pulo do gato nos negócios. É onde um negócio pode prosperar ou se inviabilizar. A formação do preço é o somatório dos custos, tributos e margem de lucro. No varejo, onde a concorrência é acirrada, uma alteração de qualquer das três variáveis pode significar o sucesso ou o insucesso de um negócio. Para que a micro ou pequena empresa se mantenha em condições de concorrência, o Estado intervém reduzindo a carga tributária dos pequenos negócios. Mas para que eles se mantenham vivos, precisam ter custos muito ajustados e uma reduzida margem de lucro. Essa é a luta diária dos pequenos negócios para manter mais de 50% dos empregos formais no país.

Para que as plataformas digitais tenham um portfólio maior de produtos ofertados, elas fazem parcerias com fornecedores que utilizam seus canais para realizar negócios diretamente com os consumidores. Os preços nessas plataformas digitais são imbatíveis, o que inviabiliza a possibilidade de concorrência das lojas físicas, que mantêm empregos espalhados pelo Distrito Federal. Essa guerra é a disputa do emprego gerado em Brasília contra o emprego gerado, muitas vezes, em outros países. Mas o pior é perceber que, ao fazer essa compra, muitas vezes, o consumidor recebe em casa uma mercadoria sem o devido acompanhamento da nota fiscal, com clara sonegação de imposto, tornando ainda mais desleal a concorrência que não destrói apenas nosso varejo, mas nossos empregos e impostos que devem ser reinvestidos para a sociedade. É o marketplace de forma desleal destruindo o varejo que gera emprego e renda no Distrito Federal.

O Consumo Consciente é aquele onde a escolha do produto ou serviço a ser consumido tem um impacto socioambiental. E, hoje, com a consciência coletiva fortalecida contra os desvios éticos e a intolerância aos desvios de conduta dos agentes públicos, é inadmissível estimular compras de sonegadores de impostos. Se combatemos a corrupção, não podemos admitir a sonegação, afinal isso seria contraditório. Enquanto o fisco não consegue impedir a sonegação nessas plataformas digitais, só o consumo consciente vai proteger o nosso varejo dessa injustiça. É hora de o consumidor pensar naquele comércio que sempre o atendeu e que, em momentos difíceis, facilitou o seu consumo para atender a ele e a sua família. O consumidor não deve aceitar comprar de sonegadores. Deve denunciar e rejeitar essa oferta de produtos permeada da sedução do crime da sonegação.

Se queremos uma Brasília mais justa e ética, temos que optar por fornecedores corretos que sejam comprometidos com os dispositivos legais. A tecnologia transforma o varejo, e não adianta resistir. Tem que se adaptar. Aquele que não se conectar à nova realidade ficará de fora desse mercado. Mas a cada compra feita nessas plataformas, com a sonegação influenciando no preço, significa a opção pelo errado em detrimento daqueles que procuram trabalhar de forma correta. Só o consumo consciente pode fazer justiça àqueles que têm uma difícil luta pela sobrevivência no comércio local, que sempre esteve aberto e pronto para atender as famílias do Distrito Federal. O marketplace não pode se transformar em um ambiente onde impera a Lei de Gerson. A consciência dos consumidores e do governo precisa acordar a sociedade para a dura batalha da geração de empregos no Distrito Federal e para a valorização de quem ama e protege Brasília.

 

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