O Brasil está fadado a conviver com tragédias, a começar pela gestão federal, em que o chefe maior da Nação se esbalda dançando funk e curtindo um jet ski numa linda praia de Santa Catarina, enquanto enchentes matam dezenas de brasileiros e deixam milhares sem ter onde morar. A se confirmarem as previsões meteorológicas, os desastres estão longe do fim. As chuvas estão se descolando do Sul da Bahia para a região Sudeste. Em Minas, seis já morreram. No Rio de Janeiro, o prefeito Eduardo Paes avisou que os estragos devem ser grandes.
Muito do que se está vendo nas áreas fortemente atingidas pelas chuvas decorre do descaso histórico da administração pública, em todos os níveis. O Brasil, infelizmente, nunca se preparou para enfrentar intempéries climáticas. Muito pelo contrário. Sempre fechou os olhos para a ocupação desordenada de áreas que deveriam ser preservadas pelo governo, mas se transformaram em regiões de risco, onde vidas não importam. Somente em São Paulo, nos últimos 11 anos, o número de moradores em áreas sem a mínima segurança aumentou 20%.
Fosse o Brasil um país sério, em que os gestores eleitos pelo voto tivessem real compromisso com a população, não assistiríamos às tragédias recorrentes provocadas pelas chuvas. Entra ano, sai ano, o quadro de desespero é o mesmo. Famílias destruídas, com seus poucos bens tragados pela lama. Não por acaso, a sensação de abandono é enorme. O mesmo poder público que nada fez com vistas à prevenção, pouco faz para socorrer os necessitados. Desastres naturais, sabe-se, se tornarão cada vez mais frequentes. Portanto, é preciso ação para preveni-los, ainda que seja para minimizar seus efeitos.
No caso do presidente da República, não bastasse a falta de disposição para exercer suas funções, não se vê, da parte dele, nenhum gesto de compaixão pelas vidas que se foram nem pelas perdas materiais de pessoas que, em maioria, já viviam em situação precária. É o mesmo descaso em relação às vacinas contra a covid-19. Em vez de assumir o papel de líder da nação e incentivar a proteção, o chefe do Executivo trata de desqualificar a imunização de crianças de 5 a 11 anos, a despeito de o país ser o segundo no mundo com mais mortes pela doença nessa faixa etária.
É assustador que o negacionismo ainda impere diante de tudo o que se está vendo mundo afora. A Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou, ontem, que o Brasil deve se preparar para uma nova onda de covid, como já ocorre nos Estados Unidos e na Europa. Somente a França registrou mais de 200 mil casos de infecção pelo novo coronavírus em 24h. Isso significa que os sistemas de saúde serão colocados à prova novamente. A boa notícia é que a maioria dos brasileiros optou pela ciência e vacinou-se. Mas isso não quer dizer que a variante ômicron, que se espalha como praga, não deixará seu rastro.
Ou seja, ao mesmo tempo em que o país está contando as mortes provocadas pelas enchentes, o vírus se alastra silenciosamente. Estudo realizado pelo Instituto Todos pela Saúde (ITpS) aponta que a incidência da ômicron em oito estados é de 31,7%. Foram analisados 30.483 testes RT-PCR Especial, sendo que 640 deram positivo para o coronavírus. Em 203 deles, a nova variante estava presente. O percentual da ômicron ante as amostras positivas vem aumentando sistematicamente. Na semana passada, ultrapassou a taxa de 40%, encostando em 70% em 25 de dezembro.
O novo ano está batendo à porta. Quem esperava por tempos melhores deve se preparar para o pior, com governos inertes diante de desastres anunciados. Mudar esse destino trágico é imperativo. Os brasileiros merecem — e muito — respeito.