Visão do Correio

Artigo: trabalho necessário

A taxa de desemprego caiu de 13,7%, no trimestre encerrado em julho, para 12,1% nos três meses finalizados em outubro. É o percentual mais baixo desde o trimestre encerrado em fevereiro de 2020. Os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) revelaram a geração de 324.112 empregos com carteira assinada em novembro. Os dois dados mostram que o mercado de trabalho brasileiro está se recuperando, ainda que de forma lenta e sem a solidez necessária para assegurar trabalho para parte significativa dos 12,9 milhões de trabalhadores que estão sem trabalho, conforme dados da Pnad Contínua divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 

Ávida por notícias positivas, a equipe econômica do governo Jair Bolsonaro (PL) pode até comemorar, afinal, há 3,3 milhões de brasileiros que conseguiram trabalho entre julho e outubro. Na comparação com outubro do ano passado, 8,7 milhões de pessoas que estavam desocupadas estão agora trabalhando. Se antes as vagas formais explicavam a queda do desemprego, agora são as ocupações informais que ajudam a sustentar a redução. Dos postos de trabalho criados entre julho e outubro, 40% foram de vagas com carteira assinada.

Embora representem recuperação, os números da Pnad contínua mostram a precariedade do mercado de trabalho brasileiro. Além dos 12,9 milhões de desocupados, o país tem 38,2 milhões de cidadãos trabalhando na informalidade (sem carteira assinada e garantias legais). Esse contingente representa 40,7% da força de trabalho ocupada. Esse quadro mina a reação do emprego, porque são ocupações com menor rendimento e na imensa maioria das vezes, sem exigência de qualificação, o que derruba a produtividade do Brasil, que se mantém estagnada há 30 anos. 

Além disso, mesmo com a reação, o desemprego no Brasil é um dos mais altos do mundo. Em ranking de 44 países em estudo feito pela agência de risco Austin Rating. Com taxa de 13,1% em agosto, o Brasil registrava a quarta maior taxa de desocupação, perdendo apenas para Costa Rica (15,3%), Espanha (14,6%) e Grécia (13,8%). Esse quadro não se alterou significativamente agora, e o Brasil se mantém com uma das maiores taxas de desemprego. 

Outro quadro que envergonha qualquer tentativa de exaltação dos dados do IBGE é o fato de a renda média do trabalhador brasileiro ser hoje a mais baixa em quase 10 anos. A Pnad Contínua mostra que o rendimento médio real habitual do trabalhador ficou em R$ 2.449, o menor valor desde 2012, início da série histórica da pesquisa do IBGE. Esse valor é 4,6% inferior ao trimestre anterior e 11,1% mais baixo do que em igual período de 2020. Com base no câmbio a R$ 5,64, esse valor, que corresponde a 2,2 vezes o salário mínimo, representa US$ 434. Pela Pnad, o rendimento médio do trabalhador com carteira assinada foi de R$ 2.345, enquanto os empregados sem carteira receberam R$ 1.528 e os que trabalham por conta própria informalmente receberam valor médio de R$ 1.458. 

A queda das taxas de desemprego no fim do ano representam um alívio para os que conseguiram ocupação, mas está longe de ser motivo para recuperar a confiança dos brasileiros na reação da economia, essa, sim, necessária que ocorra de forma firme para que mais trabalhadores consigam se colocar no mercado e para que melhores salários sejam pagos. É preciso que o Brasil volte, mesmo considerando o impacto das tecnologias disruptivas sobre o trabalho, a gerar emprego e renda para mais brasileiros, cuidando também de qualificar a mão de obra desocupada, uma vez que nas empresas de tecnologia há deficit de trabalhadores. É preciso ter planejamento e estratégia para que milhões de cidadãos não precisem ficar desocupados nem se ocupar com atividades com baixa remuneração e sem nenhuma garantia.

 

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