Quase dois anos depois do início da pandemia de covid-19, o país contabiliza dados macabros. Nesse período, mais de 22,2 milhões de brasileiros foram infectados pelo coronavírus. E pelo menos 618 mil perderam a vida. Em números absolutos, o Brasil só fica atrás dos Estados Unidos no total de mortes provocadas pelo Sars-CoV-2. Mais de 800 mil pessoas em solo americano não resistiram ao vírus. Mas há um fator que, nos dias atuais, faz toda a diferença: a vacina. A adesão em massa à imunização anticovid impediu que a tragédia fosse ainda maior no território nacional.
Hoje, enquanto os EUA se veem às voltas com a resistência de parte da população em tomar a vacina e volta a enfrentar nova escalada da pandemia impulsionada pela delta, a mais letal das variantes do coronavírus já detectadas, o Brasil registra queda contínua nos indicadores de gravidade da covid-19. Aqui, a média de casos graves, internações em unidades de terapia intensiva e de mortes pela doença estão em queda contínua desde meados deste ano. E o motivo para isso é óbvio: essas taxas começaram a recuar à medida que o país conseguiu, efetivamente, avançar na campanha nacional de imunização.
Para se ter uma ideia do sucesso da vacina entre os brasileiros, vale lembrar pesquisas que apontavam a disposição de mais de 90% da população de tomar o imunizante. E, para surpresa de quem temia que a ofensiva antivacina causasse grande prejuízo à campanha nacional de imunização, o percentual de adesão já supera as expectativas mais otimistas. Entre os adultos, o percentual de vacinados com primeira dose se revela bem maior: praticamente 100% das pessoas com 18 ou mais já tomaram a primeira dose. E quase 90% já estão completamente imunizados com duas doses.
De forma geral, entre o público que é alvo da campanha, os dados são igualmente animadores. Entre pessoas com 12 anos ou mais, 93% receberam ao menos a primeira dose. E cerca de 80% concluíram o ciclo vacinal completo. Um feito e tanto, que dificilmente seria possível não fosse a expertise do combalido Sistema Único de Saúde (SUS). Sim, foi a vacina que salvou o Brasil de uma tragédia muito maior.
Em maio passado, por exemplo, enquanto o governo Biden comemorava o avanço da vacinação — à época, os Estados Unidos chegaram a aplicar mais de 4 milhões de doses por dia, a campanha de imunização no Brasil patinava. Faltavam doses. E os prognósticos que se traçavam eram catastróficos. Cientistas chegaram a prever que, até setembro, chegaríamos, no total, a 1 milhão de óbitos. Mas graças às vacinas, que começaram a chegar aos postos do SUS, e os brasileiros não titubearam em tomá-las, esse cenário mudou completamente.
Hoje, para avançar ainda mais, falta o aval do governo brasileiro para que a imunização chegue às crianças de 5 a 11 anos. A exemplo da Anvisa e da americana FDA, agências reguladoras do mundo inteiro têm autorizado a medida. Um caso raro de não vacinado no país, Bolsonaro é contra. Mas essa resistência está com as horas contadas: o Supremo Tribunal Federal deu prazo até 5 de janeiro para que o Planalto anuncie a inclusão dos pequenos entre os beneficiados da campanha de vacinação contra a covid. Xô, retrocesso.