Noel encheu as prateleiras do comércio e anima as empresas de prestação de serviços, tentando driblar a inflação elevada e persistente que assusta os brasileiros, com a justa e merecida estratégia de retomar o curso das vendas duramente sacrificadas pela pandemia de covid-19. Contudo, a recuperação tem sido lenta e não vem contemplando da mesma forma os negócios desses setores. O tempo de faturar se torna, agora, exíguo e contado por sete a 10 dias de incentivo ao consumo ainda motivado pelas festas de fim de ano, sem a disposição que se imaginava após a chegada da variante ômicron do novo coronavírus.
São momentos desafiadores para as famílias, o comércio e os prestadores de serviços, que não puderam contar com a trégua mais ensaiada do que efetiva de alguns índices do custo de vida neste mês. Houve recuo do Índice de Preços ao Consumidor — Semanal (IPC-S) no período de 30 dias terminado na segunda semana deste mês, de 1,18% para 1,07%, de acordo com a medição da Fundação Getulio Vargas.
Em 12 meses, a pressão do indicador arrefeceu de 10,01% para 9,89%, mas apenas três categorias de gastos desaceleraram, graças, principalmente ao aumento menor, de 4,13%, do preço da gasolina, ante 6,57% na primeira prévia do IPC-S em dezembro. Dificilmente as donas de casa vão perceber a redução das taxas observadas no grupo de alimentos, cujos preços subiram 0,64%, em relação aos 0,65% no começo do mês.
A pesquisa encontrou alívios em seis capitais — São Paulo, Brasília, Rio de Janeiro, Salvador, Recife e Belo Horizonte, enquanto houve avanço em Porto Alegre. Usando diferentes metodologias, pelo menos dois institutos de pesquisa, a Fipe, da cidade de São Paulo, e a Fundação Ipead, vinculada à UFMG, de Belo Horizonte, mostraram expressivos aumentos de preços da alimentação na segunda semana de dezembro.
O IPC-Fipe registrou alta de 0,56%, ante 0,61% na primeira semana do mês, mas as despesas com a comida subiram de 0,04% a 0,39%. Na capital mineira, o IPCA calculado pela Fundação Ipead/UFMG apresentou alta de 1,21% na segunda prévia do mês, taxa bem superior à da quadrissemana anterior, de 1,09%. De novo, a alimentação encareceu bastante (1,49%) e pela terceira medição seguida.
Outro problema que aflige os brasileiros e complica as possibilidades de volta do país ao cenário de crescimento é a conspiração de más notícias na economia, se não bastassem o desemprego que cedeu pouco neste ano e os baixos rendimentos. A corrida da inflação não está sozinha. Ela se mantém em momento de PIB negativo (-0,1%) no terceiro trimestre, configurando recessão técnica, redução dos índices de confiança de empresários e consumidores nos últimos meses e piora do humor daqueles que costumam ditar as cartas no mercado financeiro.
Na última semana, o dólar engatou a quinta alta até quarta-feira, cotado a R$ 5,708. Foi o valor mais alto em cerca de oito meses e o Banco Central se viu forçado a redobrar a atuação no mercado de câmbio para conter a valorização. O IBC-Br, índice que mede a atividade econômica e é chamado de prévia do PIB pelo governo, também caiu (-0,94%) no trimestre móvel terminado em outubro. A queda de 0,40% frente a setembro configurou o maior tombo para o mês desde 2014.
Surpreende é o fato de que, diante desse inferno astral, os brasileiros não contem com uma equipe econômica e seus representantes debruçados em propostas para minimizar o sofrimento, sobretudo, dos que nem sequer têm recursos para sonhar com uma vida melhor, sem fome e miséria.