Opinião

O grande circo Brasil

Das operações do intelecto capazes de definir e distinguir o falso do verdadeiro, a lógica é, seguramente, a mais importante das funções humanas. Mesmo assim, é uma função pouco ou nada usada quando o assunto é política nacional na condução do Estado. É nesse ponto que reside a nossa grande diferença em relação aos demais países do mundo civilizado.

A lógica se liga à verdade, quando demonstra satisfazer as duras exigências da ética humana. A falta de lógica em nosso modelo político de gestão do Estado demonstra que não há verdade naquilo que é feito. Com isso, fica a premissa de que nosso Estado é uma entidade falsa. O que se tem é uma fachada cênica. Por detrás, movem-se os eleitos políticos, numa encenação mambembe, que se repete a cada temporada do Grande Teatro Brasil, de quatro em quatro anos.

Por isso mesmo, nada no mundo da política nacional parece fazer sentido para o cidadão de bem desse país. Entre nós, não há regras nem scripts que não possam ser mudados e adaptados para que neles se encaixem todos os desejos e as vontades do elenco formado por nossa classe dirigente. Fica impossível saber até em que terreno estamos pisando.

O que existe, de fato, são dois mundos díspares. Um no palco e outro na plateia. Um formado pelos dirigentes do Estado, incluindo aí os próceres dos Três Poderes. Outro mundo, totalmente diferente e até distante, é aquele formado por milhões de cidadãos que fazem o possível para conduzirem suas vidas o mais distante possível de tudo o que o Estado possa representar. Não há ligação possível entre esses dois mundos. Diante dessa constatação tão básica, fica até difícil saber por onde começar para pôr fim a essa pantomima que transforma nossas vidas numa tragédia sem fim.

Poderíamos, à guisa de imaginação, começar por substituir as eleições de 2022, por um referendo popular, que reunisse sugestões para acabar, de vez, com o atual modelo político vigente, reduzindo o Estado, enxugando a máquina pública, extinguindo privilégios de toda a ordem, cortando benefícios supérfluos, interrompendo fundos partidários e eleitorais, pondo um fim à ciranda eterna da impunidade, nivelando nosso modelo de Estado com outros do mundo desenvolvido e dando, quem sabe, um passo decisivo para adentrarmos, de fato, no século 21. Ou é isso, ou é nada.

As eleições vindouras, a permitir a repetição desse falso modelo de Estado que temos, em nada resultarão de produtiva ou lógica. Sem a possibilidade de um amplo plebiscito que remova o velho Estado e inaugure o Estado da lógica, fundado na verdade e na ética, as eleições apenas servirão para renovar alguns poucos quadros desse elenco de embusteiros sendo que o essencial ficará imutável. Muito mais importantes do que as próximas eleições é a mudança de modelo, capaz de varrer para longe esses seres do nosso leviatã moderno.

Pelo que se afigura na linha do horizonte, onde pesadas nuvens de fuligem se agigantam, escalando o céu, nada de promissor saído das urnas virá ao nosso encontro. Ou usamos da lógica para encontrar a verdade que queremos, ou vamos para mais um quadriênio com uma nova temporada do Grande Circo de horrores Brasil.

 

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