As fortes chuvas que atingiram cidades da Bahia e de Minas Gerais, nos últimos dias, causando a morte de pelo menos 12 pessoas, 175 feridas e quase 80 mil desabrigadas ou afetadas em 59 cidades nos dois estados, mostram mais uma vez que eventos climáticos severos devem se tornar frequentes a partir de um maior aquecimento do planeta, sejam secas extremas sejam tempestades intensas. E governos, em todos os níveis, devem estar preparados para, se não evitar catástrofes climáticas, adotar medidas tanto no sentido de prevenção quanto de rapidez no atendimento aos atingidos, seja providenciando abrigo e possibilidade de acesso a recursos emergenciais, seja realizando obras no período de estiagem para evitar danos na época das tempestades, mas para isso não é mais possível o despreparo dos gestores.
Esses eventos são cíclicos e, num passado não muito distante, era comum termos início de ano com cidades alagadas em Minas e outros estados, mortes e desabrigados. E essa ocorrência se tornou mais escassa nos últimos anos não por medidas que minimizam o impacto das chuvas, mas, sim, pela menor incidência de precipitações. A mesma escassez hídrica que levou o Brasil a enfrentar a maior crise energética da história. Agora que, mais do que nunca, as chuvas são bem-vindas e necessárias para que não mais tenhamos risco de desabastecimento ou apagões elétricos, não é possível que voltemos a conviver com cidades alagadas, pessoas mortas ou feridas e milhares de desabrigados ao verem suas casas destruídas sem que os governos, em todos os níveis, se preparem para esses eventos.
Não se imagina que esse preparo, com ações planejadas, seja para evitar catástrofes relacionadas a mudanças do clima. O que se espera é que sejam adotadas ações preventivas de forma articulada com a Defesa Civil em áreas de risco, como a remoção de famílias e obras emergenciais para evitar perdas de vidas e minimizar os impactos, assim como estruturar ações automáticas nessas situações, para agilizar liberação de recursos visando a recuperação dos danos, indo além do que já é feito com a decretação de situação de emergência. Há que se pensar até mesmo em constituir fundos para cobrir a reconstrução de cidades ou áreas destruídas por secas ou chuvas extremas. Essas ações, inclusive, podem se tornar fonte de geração de emprego em regiões carentes.
As chuvas que causam estragos sãos as mesmas que aliviam a pressão sobre os reservatórios das usinas hidrelétricas, que sobem com as águas que chegam às represas. A situação ainda não é confortável, mas o cenário é de recuperação com o início da estação chuvosa, que se intensificará a partir da semana que vem, com a chegada do verão. Também neste caso é preciso que haja planejamento para que se concilie a redução do custo de geração da eletricidade, com menor acionamento de usinas térmicas à necessidade de se completar o volume de água nos reservatórios de forma a permitir a passagem por períodos de estiagem sem uma brutal elevação da conta de luz.
Até ontem, os reservatórios das hidrelétricas do Sudeste/Centro-Oeste, que respondem por cerca de 70% da capacidade de geração de energia do país, estavam com 20,76% da capacidade, contra um volume de 16,7% no fim de setembro e de 18,2% em outubro. Apesar dessa recuperação, há usinas, como a de São Simão, com menos de 10% da capacidade. Furnas e Serra da Mesa, as duas maiores do sistema, estão com 23,07% e 25,65%, respectivamente. Juntas elas representam mais de 30% da capacidade da geração das bacias do Sudeste e Centro-Oeste. Com o governo concedendo um empréstimo de R$ 18 bilhões para as distribuidoras de energia, não há mais como evitar reajustes em percentuais de dois dígitos nas tarifas elétricas em 2022. É preciso resistir às tentações eleitoreiras e permitir tanto a recuperação dos reservatórios quanto as ações para minimizar situações como as vistas no Sul da Bahia e Minas Gerais nos últimos dias.