A notícia de que o vírus Influenza está circulando de forma acelerada em várias cidades do país, principalmente no Rio de Janeiro, às vésperas do verão, causou surpresa e acendeu o sinal de alerta de especialistas. Até novembro, o vírus H3N2 não tinha sido identificado na capital fluminense e hoje, conforme levantamento feito pela rede integrada de saúde Dasa, está presente em mais de 90% das amostras.
A circulação acelerada da síndrome respiratória aguda grave (SRAG) nos últimos dias também tem provocado uma corrida aos postos de saúde e hospitais no Acre, Amazonas, Amapá, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Pará, Rio de Janeiro, Rondônia e São Paulo, conforme o Boletim InfoGripe da Fiocruz.
A ocorrência de Influenza A a poucos dias do início do verão intriga especialistas. A circulação do H3N2 não é comum neste período de temperaturas elevadas. A cepa identificada no Brasil é a mesma que está circulando no Hemisfério Norte, que entra agora no período de inverno mais rigoroso. No entanto, conforme o painel viral da Dasa, já tem maior incidência que o rinovírus e até mesmo o Sars-Cov-2, causador da covid-19.
Ainda conforme a Dasa, em 2021, não havia histórico de circulação desse tipo de vírus. O primeiro caso identificado de H3N2 foi em 13 de novembro. No estado do Rio de Janeiro, houve aumento de 76% dos exames de Influenza A no mês passado, em relação a setembro de 2021, sendo 11% com diagnósticos positivos. Já em dezembro (até o último dia 6), houve aumento de 41% dos exames, em relação a setembro, alcançando a marca de 56% de positividade nos diagnósticos realizados.
Com as atenções voltadas para a imunização contra a covid-19, as pessoas deixaram de se vacinar contra a gripe. Mesmo nos grupos prioritários, como idosos e crianças, a adesão foi baixa. O Ministério da Saúde, que em anos anteriores fazia uma campanha forte de conscientização sobre a importância dessa proteção, este ano não intensificou a divulgação para atingir uma cobertura vacinal maior da população contra a gripe. A meta do governo no início da campanha, em abril, era cobrir 90% dessa parcela da população.
No Rio, apenas 53% do grupo prioritário foi imunizado, conforme dados do Vacinômetro do SUS. Em Belo Horizonte, de acordo com a prefeitura, a cobertura vacinal contra a gripe está em 62%. Desde 19 de julho, a vacina da gripe passou a ser aplicada na população em geral, a partir dos seis meses de idade.
Segundo informações do Ministério da Saúde, em 2020 foram diagnosticados 94.584 casos de gripe, provocados pela Influenza e com outras manifestações respiratórias por vírus não identificado. Neste ano, os dados apurados até o último dia 4 de novembro mostram que o número de diagnósticos pulou para 123.084.
A vacina contra a Influenza é importante pelo fator de proteção contra as formas mais graves de síndromes respiratórias. Não existem grandes diferenças entre os vírus H1N1, H2N3 e H3N2 no que diz respeito às doenças e maneiras de prevenção e tratamento. Mas o H1N1 é considerado um tipo mais agressivo se não tratado de forma adequada.
Especialistas creditam o aumento de casos de Influenza ao fato de que as pessoas passaram a circular mais livremente agora, após o isolamento social imposto pela covid-19 em 2020. Antes da pandemia, as pessoas tinham contato com o vírus ao longo do ano, o que garantia uma certa imunidade para a forma mais grave da doença. Agora, com o relaxamento das medidas de proteção e o aumento de viagens, elas estão mais vulneráveis, e, portanto, mais sujeitas à gripe e às suas complicações, principalmente no caso de idosos e crianças.
A mesma atenção que se dá agora à vacinação contra a covid-19 precisa ser dispensada à Influenza. Postos de saúde e laboratórios particulares oferecem o imunizante e essa cobertura precisa atingir uma parcela grande da população para reduzir o ritmo de contágio e até mesmo descartar casos do coronavírus, já que os sintomas dos dois vírus são muito parecidos. A recomendação é que não haja atraso entre as duas vacinas e desde o final de setembro não há mais a necessidade de aguardar duas semanas de intervalo entre as doses contra covid-19 e gripe, podendo, inclusive, serem tomadas no mesmo dia. Antes, o Programa Nacional de Imunização (PNI) estabelecia um intervalo mínimo de 14 dias.
Além disso, as medidas de segurança contra a covid-19 devem ser mantidas para evitar as síndromes respiratórias, ou seja, o uso de máscara de proteção facial e a higienização frequente das mãos. Com esses cuidados, é possível diminuir a circulação não só do coronavírus como também da Influenza e suas complicações.