Opinião

Prudência e canja de galinha

ORLANDO THOMÉ CORDEIRO - Consultor em estratégia

Na última segunda-feira, foi divulgada uma nova pesquisa da AtlasIntel com informações muito interessantes para ajudar a entender a conjuntura política e identificar algumas tendências. No quesito avaliação do governo Bolsonaro, o destaque foi que, pela primeira vez, desde o início de seu mandato, seus percentuais de ótimo e bom ficaram abaixo do piso de 20%. Isso provocou um verdadeiro frisson na oposição e na mídia em geral, com afirmações considerando que o presidente seria carta fora do baralho na disputa em 2022.

Porém, na mesma pesquisa, há uma informação cuja relevância foi relativizada ou mesmo desconsiderada. Refiro-me aos 29% que declaram continuar aprovando seu desempenho. Ou seja, a figura do presidente consegue ter uma aprovação 10% superior à recebida por seu governo. Essa aparente contradição, na verdade, revela que Bolsonaro, apesar dos graves problemas da gestão governamental, ainda detém um grande potencial político e eleitoral.

Foi testada também a imagem de 12 líderes com base em dois critérios: positiva ou negativa. Nesse quesito, todos os nomes apresentados obtiveram um saldo negativo, com o percentual negativo superior ao positivo. E quando se observa a série histórica, apenas Lula e Sergio Moro apresentam crescimento constante, sendo o primeiro no período iniciado em maio de 2020 e o segundo, desde setembro de 2021.

Vale a pena também comparar as respostas a duas perguntas feitas separadamente. Manifestaram-se a favor do impeachment de Bolsonaro 55,8% e 39% contra. Já em relação à prisão de Lula, um rigoroso empate em 44,9% entre quem é a favor e quem é contra.

Outro dado interessante diz respeito às respostas sobre o maior problema do Brasil hoje em dia. Na primeira posição, aparece a corrupção (21,4%), seguida por pobreza e desigualdade social (19,3%), em terceiro lugar, inflação/alta dos preços (16,7%). Nas três posições seguintes, aparecem impostos altos e Estado ineficiente (9,8%), desemprego (6,8%) e crescimento econômico (6,5%). Na divulgação da pesquisa foram agregados os percentuais dedicados aos temas econômicos, totalizando 59,1%.

É legítimo fazer tal somatório, mas chama a atenção que corrupção apareça em primeiro lugar, resultado bem diferente do apontado em pesquisas recentes realizadas por outras empresas. Como o levantamento foi feito entre 23 e 26 de novembro, minha hipótese é de que pode ser um efeito colateral da entrada de Sergio Moro na corrida eleitoral, reavivando um sentimento latente em parcela significativa da população.

Na terça-feira, em complemento aos dados divulgados na véspera, tomamos conhecimento dos resultados colhidos sobre a intenção de voto para a Presidência. Nela, fica clara a confirmação da liderança de Lula (42,8%), em viés de alta, e o segundo lugar de Bolsonaro (31,5%), em viés de baixa. A novidade é o terceiro lugar de Sergio Moro (13,7%), bem distante dos demais concorrentes: Ciro (6,1%) e Doria (1,7%).

Aqui, é possível confirmar algumas tendências. A primeira é a chegada muito forte do ex-juiz à disputa. Seus movimentos recentes continuam permitindo inferir que continuará em processo de crescimento, atraindo parte de indecisos, mas também aquela parcela até então órfã de uma candidatura competitiva da chamada terceira via. É importante observarmos também que, mesmo em queda, o presidente ainda consegue se manter no patamar superior a 30%. Parte disso decorre do competente manejo das redes sociais, em que o presidente e seus assessores continuam dando as cartas.

Porém, há alguns meses, está em curso uma estratégia complementar: conceder entrevistas diárias a rádios de cidades do interior. Preparadas previamente com todo esmero, elas têm garantido um crescimento da presença e da liderança política do presidente nessas regiões. Ao fazer tal movimento, está levando em conta que 52% do eleitorado brasileiro reside nos municípios com menos de 50 mil eleitores.

É claro que, faltando pouco mais de 10 meses para o pleito, ainda poderão surgir novidades. Ciro Gomes será capaz de sair da sinuca em que se encontra ou veremos o PDT abandonar sua candidatura para apoiar Lula? Doria conseguirá reverter os altos níveis de rejeição, inclusive em SP, ou precisará desistir e apoiar outro nome? Qual será o peso relativo do União Brasil fruto da fusão DEM-PSL? E ainda temos os recém-lançados Rodrigo Pacheco e Simone Tebet. Por tudo isso, recorro aos versos de Jorge Benjor na música Engenho de Dentro: "Olha aí meu bem, prudência e dinheiro no bolso, canja de galinha não faz mal a ninguém".

 

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