No quesito corrupção, uma pauta que, ao contrário do que muitos candidatos às eleições de 2022 dizem já estar superada por outros problemas mais prementes, é preciso deixar claro que a sociedade mais esclarecida e que vota com consciência cívica sempre elegeu essa questão como a principal matriz de todos os males que afligem o país, desde sua fundação.
Questões como desemprego, fome, pobreza, desigualdades sociais, bem como crises institucionais, violência e até quesitos como inflação e descontrole das finanças, persistem e aumentam no Brasil, porque a corrupção dentro do Estado também tem não só evoluído de patamar e se institucionalizado, espraiando-se por toda a máquina pública, como deixada em segundo plano por aqueles que, em tese e na prática, teriam como função combatê-la sem tréguas.
O abandono desse tema e até sua negação por parte dos dois candidatos que se apresentam como maiores chances de vitória não pode ser debitado ao esquecimento ou outras razões da idade. A falta de discussão desse tema por esses e outros candidatos com relevância eleitoral se deve, basicamente, a razões pessoais, já que esse assunto remete diretamente ao passado de muitos deles, pondo em relevo a ficha corrida pretérita dessa turma.
Entende-se a razão quando se sabe que não é de bom tom falar em corda em casa de enforcado. A Lei da Ficha Limpa, a prisão em segunda instância, a Lei da Improbidade Administrativa e outros meios legais que poderiam, ao menos, minorar parte desse problema, devolvendo o país ao caminho da normalidade, foram, uma a uma, desmanchadas ou desidratadas direta ou indiretamente por esses mesmos candidatos, não restando mecanismo algum de accountability à administração pública para fazer frente a esse flagelo.
No passado, tanto um candidato quanto o outro usaram desse tema para elevar o entusiasmo do eleitorado. Ambos obtiveram, a partir desse tema e dos projetos que viriam para o combate à corrupção, grande adesão popular, o que explica parte de suas vitórias naquele momento.
Da mesma forma, os dois postulantes à presidência que aparecem com maiores chances de vitória em 2022 não só abandonaram esses projetos, como favoreceram o aumento dos casos de corrupção. Um deles chegou a ser preso por um período. Sobre o outro pesa também graves denúncias. Os dois foram também largamente favorecidos por decisões em última instância, adiando ou simplesmente anulando parte das condenações.
De fato, o que temos pela frente são dois candidatos que têm a necessidade de usar luvas de pelica para não mostrarem as mãos nuas e sujas. Não por outra razão, ambos os candidatos que aí estão miram contra a chegada do ex-juiz Sergio Moro à corrida presidencial. Moro representa tudo aquilo que eles não são ou dizem ser.
A escolha de Moro como alvo preferencial por parte desses dois postulantes e de mais alguns que agora se apresentam demonstra que a bandeira levantada pelo candidato da terceira via incomoda não apenas eleitoralmente, mas, no fundo, abala o psicológico dos políticos, atingindo-lhes no subconsciente, onde escondem suas peripécias inconfessáveis.
Não por outra razão, a bandeira de combate à corrução levantada por Moro já o alçou a uma posição que agora passa a incomodar os estrategistas desses dois concorrentes. A sociedade não só não esqueceu o tema de combate à corrupção, como aguarda o momento certo para manifestar essa opinião nas urnas.
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.