Por EDSON VISMONA — Advogado, presidente do Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial — Etco e do Fórum Nacional Contra a Pirataria e Ilegalidade. Foi secretário da Justiça e Cidadania de São Paulo
Nestes tempos difíceis, temos nos deparado com reflexões sobre ética, respeito à lei e constatado uma normalização de comportamentos que afrontam princípios e valores. Já em 2017, promovemos junto ao Datafolha uma pesquisa em 130 municípios indagando o que os jovens brasileiros pensam sobre ética. Como eles avaliam as próprias condutas, dos amigos, família e sociedade? O que acreditam que deve ser feito para que sua geração possa assumir a missão de transformar o país?
Resultado: a ética para os jovens está associada ao respeito ao próximo; são críticos em relação à postura dos amigos e menos críticos quando avaliam a família e o próprio comportamento e, por fim, atribuem a ausência de ética mais à sociedade e ao outro do que a si próprio.
Sobre soluções, apontaram para posturas como: conversar sobre ética com os familiares e amigos; pensar mais nos outros e não só nos meus interesses; compreender que o que é público é do interesse de todos e não de alguém; deixar de comprar produtos piratas; participar pessoalmente de atividades políticas.
Evidente a contradição. Os jovens entendem o conceito de ética, apontam interessantes caminhos para que sejamos uma sociedade mais ética, mas afirmam que é difícil ser éticos por não serem estimulados pelo meio social. Os dados corroboram com uma pesquisa realizada no Brasil em 2021 pelo CT Group, que abordaram a visão do brasileiro sobre sistemas políticos e compra de produtos ilegais, assim como o impacto social.
Para a maioria, os impostos financiam a corrupção, os políticos não são confiáveis e o sistema político não trabalha em prol da população e sim dos próprios interesses. Sobre a sua participação nesse panorama, não aceitam ser apontados como partícipes do processo corrosivo da ética, entendem que são vítimas e que, se eventualmente agem de modo não ético, é porque o meio não ajuda.
A seu ver, a compra de produtos contrabandeados e outras formas de incentivo ao mercado ilegal são comportamentos a serem relevados, pois é o que resta fazer. Entretanto, ao serem confrontados com as perdas de bilhões causadas pelo mercado ilegal, recursos que poderiam ser investidos em programas sociais, saúde, educação, o cidadão demonstra ser contrário à ilegalidade.
A verdade é que temos um longo caminho para avançar na estruturação de uma sociedade mais madura, consciente dos seus direitos e deveres, exigente e participativa sem afastar a grande responsabilidade que as elites política, econômica e social têm. A ação da sociedade civil é fundamental para demonstrar que a ética não é uma quimera e, sim, um fundamento a ser exercitado cotidianamente.
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