Opinião

Márcia Abrahão: UnB segue atuante e necessária

Correio Braziliense
postado em 26/12/2021 06:00

MÁRCIA ABRAHÃO - Reitora da Universidade de Brasília (UnB)

De forma gradual e segura, a Universidade de Brasília retornou ao trabalho presencial no começo de dezembro. Durante um ano e oito meses, nossos quatro câmpus — Asa Norte, Planaltina, Gama e Ceilândia — e as demais unidades da UnB, como a Fazenda Água Limpa e a Casa de Cultura da América Latina, restringiram a circulação de pessoas ao mínimo necessário, para que pudéssemos nos juntar à luta contra a covid-19. Não foi fácil. Não tem sido fácil. E o futuro espera de nós ainda mais coragem e generosidade.

Nesse período, os serviços essenciais da universidade foram mantidos e muitos continuaram a trabalhar de modo presencial, por exemplo, em laboratórios que desenvolveram pesquisas em todas as áreas do conhecimento, incluindo inúmeros projetos relacionados à pandemia, e no Hospital Universitário, o HUB. Agora, com parcela significativa da população vacinada, chegou a hora de retomar aos nossos espaços físicos outras atividades presenciais. Estamos fazendo isso aos poucos, com planejamento e segurança. Temos documentos com protocolos de biossegurança e orientações diversas. Os prédios estão devidamente sinalizados. Alguns espaços passaram por adaptações.

Chegamos ao final de mais um ano de enfrentamento à grave crise sanitária, em que os cientistas da UnB e de todas as universidades e instituições de pesquisa fizeram trabalho exemplar, claramente evidenciado pelos veículos de comunicação brasileiros e com amplo reconhecimento da população. Foram também meses de negociação intensa na tentativa de recomposição dos orçamentos das universidades públicas, que vêm diminuindo nos últimos anos.

Por meio da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), fizemos inúmeras reuniões no Congresso Nacional, principalmente com parlamentares da Comissão Mista de Orçamento que têm apoiado a manutenção dos recursos em patamares compatíveis com a nossa grandeza e importância, em valores de que as universidades já dispuseram antes para oferecer ensino, pesquisa e extensão de qualidade. Nesse capítulo, ainda há muito a avançar.

Em 21 de abril de 2022, a UnB completa 60 anos de uma trajetória singular, com altas e baixas orçamentárias, com ataques e defesas em torno de sua liberdade de existir e compartilhar conhecimentos. No último dia 15, demos início a uma programação intensa de ciência e alegria que preparamos para contar à sociedade brasileira, ao longo de todo o próximo ano, a história da universidade e lembrar do nosso papel na atualidade. A reunião anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em julho, será um dos pontos altos da festa.

Assim, o slogan que escolhemos para comemorar o aniversário retoma e ressoa Darcy Ribeiro, um de nossos criadores, e se conecta ao presente e ao futuro. A frase estava numa entrevista que dei ao Correio Braziliense em maio. Tenta resumir o lugar real e imaginário que ocupamos na capital do país e na vida dos milhares de profissionais formados pela UnB e os mais de 50 mil estudantes que atualmente circulam on-line e pelos nossos quatro câmpus: "Atuante como sempre, necessária como nunca".

As atividades acadêmicas da UnB recomeçam no próximo dia 17 de janeiro, com aproximadamente 1,2 mil disciplinas oferecidas de modo presencial ou semipresencial. Em tempos muito difíceis, é ótimo compartilhar essa pequena alegria do reencontro com a nossa querida universidade, sua gente diversa, suas salas, corredores e prédios, seus jardins, quadras e demais espaços. Sem esquecer que o momento ainda pede muita cautela para que possamos olhar a felicidade diretamente nos olhos.

Permanece a dor dos que partiram, dentro e fora da comunidade acadêmica — professores, servidores técnico-administrativos, estudantes e terceirizados que trabalham na UnB. Nossa solidariedade se manifesta no cuidado com o outro, na certeza de que a vacina é nosso melhor escudo. Sim, há uma sensação de impotência pairando no ar que procuramos combater com a ciência e a verdade, certos do caminho que a universidade pública escolheu.

Desde o princípio, a UnB preferiu salvar vidas. Continuaremos nessa toada. Se os dados epidemiológicos continuarem a nos autorizar, voltaremos gradualmente ao convívio presencial, ainda com máscara, distanciamento e álcool em gel nas mãos. Nossa atenção permanecerá direcionada ao comum, ao que nos faz uma comunidade universitária linda, ao afeto pessoal e à força solidária que nos transformam cotidianamente para melhor, sem perder a graça de viver, de sorrir, de gostar.

Que 2022 nos presenteie com muitos fatos científicos relevantes, com muita democracia, mais respeito à educação e à diversidade, e disposição humana infinita para o convívio harmônico em sociedade.

 


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