De médico, todo mundo tem um pouco. Dor de cabeça, toma o remédio x, dor nas costas, o medicamento y é tiro e queda, suplementos são excelentes para aumentar a imunidade — ainda que não seja o caso e a pessoa não necessite utilizar —, o fármaco z ajuda a emagrecer e deixa a pele linda. Quem nunca ouviu conselhos desse tipo de amigos, familiares, vizinhos ou nas redes sociais?
Aquele que indica o medicamento geralmente está bem-intencionado, mas quase nunca é um profissional da área de saúde, e o remédio que pode ser muito bom para uma pessoa não quer dizer que vai funcionar em outra. Na maior parte das vezes, não. Por isso, a importância da consulta com o médico para que, depois da anamnese feita, ele possa prescrever a medicação correta para o problema de saúde apresentado.
Quem nunca sentiu uma dor de cabeça, de estômago, um enjoo e foi até a pequena farmácia em casa procurar um remédio para aliviar os sintomas? Problema mais comum do que se pensa, a automedicação pode representar um risco à saúde, e na pandemia da covid-19, aumentou consideravelmente no Brasil e no mundo.
Diante de tantas fake news nas redes sociais, indicação de influencers e até mesmo com o incentivo de autoridades, muitos fizeram uso de ivermectina, por exemplo, para prevenir e tratar o coronavírus, mesmo com o alerta insistente da ciência de que o medicamento não tem eficácia para o vírus e ainda pode comprometer a saúde.
Levantamento realizado pela Agência Pública de Jornalismo Investigativo aponta que quase 7 milhões de frascos e caixas de medicamentos inseridos no "kit covid" foram vendidos em farmácias privadas, entre eles, hidroxicloroquina, cloroquina, ivermectina e nitazoxanida.
A procura também por ansiolíticos, antidepressivos, remédios para dores na coluna, antialérgicos e vitaminas visando aumentar a imunidade cresceram assustadoramente nesses dois anos de pandemia. Uma pesquisa feita pela Associação Brasileira da Indústria de Alimentos para Fins Especiais (Abiad) aponta que os suplementos alimentares, entre eles vitamina C, vitamina D e multivitamínicos, estão presentes em 59% dos lares brasileiros.
Já um outro levantamento, feito pelo Conselho Federal de Farmácia (CFF), mostra que, entre janeiro e julho de 2020, houve aumento de 17% nas vendas de antidepressivos e estabilizadores de humor. As unidades vendidas saltaram de 56,3 milhões, em 2019, para 64,1 milhões em 2020. Segundo o Conselho Federal de Medicina, a automedicação é um hábito comum para 77% dos brasileiros.
A pandemia não afetou somente a saúde física das pessoas, mas abalou o psicológico, levando muitos a recorrer a ansiolíticos e antidepressivos na esperança de conseguir lidar com a devastação emocional causada pela covid-19. O problema é que são medicamentos fortes, por isso mesmo, a retenção de receita na farmácia e a tarja preta, e representam um risco enorme quando consumidos sem a devida orientação e acompanhamento de um médico.
Além da dependência que esses remédios podem provocar, o uso indiscriminado afeta a memória e a cognição. Pessoas que convivem com depressão precisam de acompanhamento sistemático para acertar as dosagens e horários de tomar o medicamento para controlar os sintomas e evitar recaídas e agravamento da doença.
Apesar de a automedicação ser uma prática comum no Brasil, é preciso entender os riscos que podem surgir a partir do uso sem controle. Nas festas de fim ano, quando aumenta a ingestão de bebidas alcoólicas, alimentação em excesso e, em muitos casos, o aumento da depressão associada a esta época natalina, os cuidados devem ser redobrados. A interação de medicamentos ou a associação deles com álcool pode provocar reações as mais diversas e trazer riscos sérios à saúde.
O perigo reside na crença de que remédios encontrados facilmente em farmácias, sem a necessidade de receita médica, são inofensivos. Não existe medicamento que não ofereça risco à saúde, mesmo que seja um simples analgésico para dor de cabeça ou anti-inflamatório para uma dor lombar.
Especialistas têm alertado insistentemente para o risco da automedicação, que, entre outros problemas, pode causar toxicidade, danos hepáticos e renais, sangramentos e levar a desfechos graves, desde falência dos órgãos, transplantes até morte. Por isso, é melhor buscar hábitos saudáveis, com uma boa alimentação e atividade física regularmente, fazer exames de rotina e procurar o médico para receber uma orientação correta e garantir a saúde do corpo e da mente e preservar a vida.
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