CARLOS FÁVARO - Senador por Mato Grosso e membro titular das comissões de Meio Ambiente (CMA) e de Agricultura e Reforma Agrária (CRA) do Senado Federal
A queda de 0,1% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, impulsionada pelo recuo de 8% na atividade agropecuária, acendeu o alerta da economia brasileira, que tem forte dependência do setor.
Com vocação de sua gente, terras produtivas e clima favorável, o agronegócio sempre puxou pra cima a balança comercial brasileira. Mas o registro do terceiro trimestre de 2021, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostrou o que o homem do campo há muito tempo já sabe: cuidar do clima é cuidar do pão nosso de cada dia.
E a lição vem sendo cumprida pelos trabalhadores rurais, ao contrário do que se divulga Brasil a fora. Para quem vive da terra, compromisso com o meio ambiente é coisa séria. E o agronegócio brasileiro é pujante justamente, por reconhecer na natureza seu maior ativo.
Os fenômenos naturais que impactaram nossa produção com geadas, seca prolongada e crise hidroenergética não são acaso, como disseram, mas, sim, descaso.
No Senado Federal, agimos com celeridade para poder dar as respostas que a crise provocada pela pandemia necessitava. O mesmo acontece em relação ao clima, quando a Casa teve a iniciativa de assumir o compromisso de políticas de redução de gases do efeito estufa. Aprovamos recursos e todas as ferramentas necessárias, mas no Executivo faltou planejamento. E não por falta de alerta.
O agro vai se recuperar. Vai recuperar nossa economia. Tem expertise e todas as ferramentas para isso. Mas a imagem do Brasil vai? A despeito da experiência do homem do campo que reconhece na natureza seu principal ativo, é mundialmente alardeado o descaso do governo federal com as políticas de controle e fiscalização ambiental. E o que foi feito para mudar esse cenário?
Não existe produto bom que sobreviva a uma propaganda tão ruim. A potência do agronegócio brasileiro é capaz de impulsionar nossa economia, mas é hora de reconhecer que o tema não se resume ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Já passou da hora de o Ministério das Relações Exteriores entrar em campo (literalmente). Mas entrar para jogar a favor, diferentemente do que vimos num passado bem recente.
O maior ativo do Brasil precisa ser tratado, na esfera diplomática, com conhecimento de causa, com a consciência de que expandimos nossa produção preservando 67% do nosso meio-ambiente, de que as boas práticas superam as más e que essas devem ser punidas com o rigor da lei. Vistas grossas não fazem desenvolvimento.
É preciso também investir no trabalhador do campo, naquele que conhece a terra, que lida com ela, como a agricultura familiar, os povos indígenas. E isso se faz com regularização de normas, com segurança jurídica. Não adianta proteger o agronegócio dos grandes e sufocar os pequenos produtores rurais em um emaranhado burocrático e nefasto.
Tampouco adianta firmar compromissos internacionais e não fazer a lição de casa. Temos recursos para investir em energia renovável, temos conhecimento e capacidade técnica, exemplos disso são o nosso biodiesel, nossas fontes de energia solar, eólica. Já não são temas do futuro. O imediatismo do mercado não é mais urgente que o imediatismo da fome.
Temos comida para pôr nos pratos do brasileiro e de pessoas de todo o mundo, mas precisamos ter tudo em pratos limpos. O agro se recupera, mas a nossa imagem, a nossa imagem urge recuperar.
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