VISTO, LIDO E OUVIDO

Voltamos ao passado como uma tragédia final

Circe Cunha (interina)
postado em 12/12/2021 06:00

Com o avanço inclemente, por todo o país, das chamadas commodities, dentro do que se convencionou chamar agrobusiness, produtos como trigo, milho, soja, açúcar; e minérios como ferro, petróleo, gás natural, ouro, prata alumínio, todos eles matérias-primas in natura, o Brasil vai, aos poucos, recuando séculos, voltando ao tempo em que as relações comerciais com sua metrópole principal, Portugal, era feita segundo os ditames da política mercantilista.

Nesse período, entre os séculos XV e XVIII, o papel desempenhado por nosso país se resumia em ser uma economia periférica e complementar à metrópole, fornecendo, em grande quantidade, matérias-primas a preços irrisórios e comprando manufaturados por altos valores, sempre dentro do conceito de estimular a balança comercial favorável para a metrópole. A única diferença é que a nossa metrópole agora é o mundo.

Só o fato de pensar que vamos, por obra e graça dos últimos governos que o país teve, recuando rumo a um passado que acreditávamos ter deixado para trás e que dilapidou nossas riquezas e condenou o nosso povo à miséria e que em pleno século XXI toda essa tragédia vai se repetindo, bem debaixo de nossos olhos dói muito. Com isso seremos obrigados a nos manter na periferia do mundo civilizado. E o pior é que a grande demanda por esses produtos naturais, num mundo altamente industrializado e consumidor de matérias-primas, aumentou assustadoramente, o que acelerou, também, a destruição do nosso meio ambiente, com derrubada de matas nativas, como nunca houve em tempos passados.

Tudo isso somado à queima de nossas florestas, à extração ilegal de madeira e à mineração clandestina, que vão deixando enormes feridas na terra. Cicatrizes que jamais serão apagadas. Todo esse boom provocado pela produção enlouquecida e sem controle de commodities, ao enriquecer uma minoria, deixa como saldo a poluição, o envenenamento e o assoreamento de nossos cursos d'água.

Destruímos nosso país em prol de atividades econômicas extrativistas e primárias, cercando nossos campos com latifúndios, onde a monocultura transgênica é plantada não para produzir alimentos, mas para gerar lucros para esses novos senhores, alojados nas casas modernas grandes instaladas no poder. O resultado dessas atividades totalmente predatórias pode ser conferido na formação de áreas, cada vez maiores, em processo de degradação ambiental irreversível e de desertificação.

O que vai ficando para trás e para as futuras gerações que não têm condições de estudar na Europa e nos Estados Unidos são terras arrasadas pelo mau manejo e pelos seguidos crimes ambientais praticados sem qualquer punição. Como saldo dessa razia em nossa terra temos os desertos áridos e inóspitos, com a terra arrasada, improdutiva. Lugares onde nem mesmo os carcarás são mais vistos.

Esse parece ser o preço a ser pago pela incúria de seguidos governos. Uma gente que no futuro não poderá sequer ser responsabilizada por esses crimes contra a nação. A prescrição e o beneplácito de nossas altas cortes, sempre aquiescente com os poderosos, cuidarão para que esses crimes não resultem em penas para essa clientela.

Fossem esses os únicos passivos deixados por essas atividades doidivanas e que vão destruindo nosso país pelas beiradas, todos esses crimes seriam circunscritos à área do meio ambiente. Ocorre que a proteção que essa economia predadora recebe do governo, também como no passado mercantilista, em nome da tal balança comercial favorável, já destruiu, apenas nos últimos 10 anos, aproximadamente 30 mil indústrias e quase um milhão e meio de postos de trabalho.

O reconhecimento da China como economia de mercado, uma iniciativa suicida dos governos petistas, fez o resto. Hoje, uma simples caminhada pelos mercados ou lojas de departamento mostra o estrago que essas políticas ideológicas e marotas fizeram com a indústria brasileira. Importamos quase de tudo, do pregador de roupa ao televisor. E vamos aumentando nossa dependência, sempre reféns de produtos industrializados de baixíssima qualidade, duração limitada e grande parte com falhas nas garantias trabalhistas.

A crise sanitária fez o estrago final, fechando o comércio, falindo empresas e gerando cada vez mais desemprego. Vamos, aos poucos, regressando séculos, rumo ao período do Brasil Colônia, com tudo de ruim que essa era passada representou. A diferença é que agora não irá sobrar nada para recontar essa triste história. Voltamos ao passado como tragédia.

 

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