OTÁVIO SANTANA DO RÊGO BASTOS - General de Divisão da Reserva
Com a aceleração das campanhas eleitorais, os candidatos e suas agrupações políticas vão precisar elaborar um programa de governo, a ser apresentado à Justiça Eleitoral — como obrigação legal — e à sociedade — como peça publicitária —, no qual iluminem suas ideias para solucionar os desafios na condução do país.
Planejar é providência indispensável ao êxito de qualquer atividade humana. Como reflexo, há necessidade de aplicação de um método para ajudar a decidir e melhorar as chances de êxito da empreitada.
Nosso país é complexo. Sofre, historicamente, com a falta de um projeto nacional e com lideranças incapazes de dimensionar corretamente os desafios. Não deveria ser assim.
Os governos não seguem o processo consagrado de dividir por temática, identificar o problema, discutir a solução e aplicar as ferramentas de poder para dar resolução à equação montada.
Em linhas gerais, definir:
— A política, que fixa os objetivos e as prioridades. É "o que fazer".
— A estratégia, que é a arte de planejar, preparar e aplicar o poder para conquistar e manter as hipóteses iluminadas. É o "como fazer".
Há poucos dias, organizando a biblioteca pessoal, deparei-me com a obra Método (Bibliex, reeditada em 2018), muito utilizada para o concurso de acesso à Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (Eceme, de autoria do coronel reformado Tiago Castro de Castro).
Bom seria que os pretendentes aos cargos executivos pudessem se aparelhar intelectualmente, conhecendo a fundo o Brasil com as peculiaridades regionais, preparando-se para a peleja cheia de obstáculos. Alguns o farão. São os esclarecidos e com apreço por discutir ideias, mesmo que contrárias.
Outros, não gastarão um minuto de neurônio. São senhores de engenho na decrepitude do poder que nunca refletiram, que não têm ouvidos, apenas bocas e sempre decidiram no "talão da bota" (expressão militar que significa deliberar de afogadilho).
Acredito que vale um spoiler do manual para justificar o meu interesse. Em um dos capítulos, o coronel Tiago de Castro apresenta uma visão espaçosa dos assuntos que devem ser debulhados nesses estudos, dividindo-os em fatores fisiográficos, psicossociais, políticos, militares, econômicos e de produção.
Cada um desses fatores é subdividido em temas que listam ideias correlatas para entregar ao planejador um jogo da guerra sistematizado (aspectos positivos versus aspectos negativos), facilitando a escolha da melhor linha de ação.
Muitas gerações de oficiais com Estado-Maior se curvam em homenagem ao velho mestre. Sou um deles.
É claro que um projeto completo não se resumiria aos itens elencados no momento. Além de completar a lista de fatores observáveis, exigiria uma coordenação superior, com visão do todo, para criar sinergia entre as ações.
Existem vários métodos (inclusive com o uso de inteligência artificial) disponíveis no ambiente acadêmico, empresarial e militar.
O que se deseja é um projeto eleitoral com roupagem e conteúdo profissional, que resulte em diretivas fáceis de ser defendidas, compreendidas e aplicadas. Os cenários devem ser adaptados ao público por nível e por interesse.
Como eleitor, é frustrante não identificar nas lideranças refesteladas em suas cadeiras a preocupação com organização de ideias e com discussão sustentada em dados fidedignos.
Na maioria das vezes, os processos de tomada de decisão se formam na calada da madrugada, com base em WhatsApp de última hora, com prazo de execução para ontem, que ao fim da tarde já foram esquecidos.
Daí a sensação de barco à deriva em mar tempestuoso. Mas, como na famosa frase de Fernando Pessoa "navegar é preciso, viver não é preciso", vamos em frente.
Ano que vem, com as eleições, temos mais uma possibilidade de navegar. É necessário colaborarmos para essa travessia. E, acima de tudo, não deixarmos de cobrar por promessas vergonhosamente não cumpridas.
Apontemos aos candidatos os nossos anseios, qual a urgência por implantá-los e quanto estamos dispostos a abdicar, agora, a fim de reposicionar o país no rumo do bem-estar e estabilidade sociais.
O tempo foge ao nosso controle. Temos filhos e netos, famílias, amigos. Queremos, já, um Brasil mais justo para eles. Paz e bem!
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