O Banco Central ficou sem alternativa. Com a inflação em disparada, terá de aumentar, mais uma vez, a taxa básica de juros (Selic) nesta quarta-feira. O compromisso do Comitê de Política Monetária (Copom) é de nova alta de 1,5 ponto percentual, para 9,25% ao ano. De março, quando começou o arrocho, a dezembro, a Selic subirá 7,25 pontos. Não há precedentes no mundo de elevação tão forte nos juros neste ano em tão curto espaço de tempo. O custo de vida no Brasil, superior a 10%, é o terceiro maior quando se considera as principais economias do planeta. Só fica atrás de Argentina e Turquia.
Mesmo com a Selic encerrando o ano em 9,25%, muito provavelmente o Banco Central terá de manter o pé no acelerador. Praticamente todas as instituições financeiras e consultorias ouvidas pela autoridade monetária apostam que o aperto nos juros continuará ao longo de 2022, ano de eleições. As estimativas vão de 10% a 14,25% anuais. É muito para uma economia que está com os dois pés fincados na recessão. Juros em alta resultam em crédito mais caro para o consumo e para os investimentos, duas das principais alavancas do Produto Interno Bruto (PIB).
Pela teoria econômica, o impacto da política monetária na atividade só é sentido entre seis e nove meses. Ou seja, toda a potência do arrocho dado pelo Banco Central será percebido no segundo semestre do ano que vem, justamente quando a disputa eleitoral estará pegando fogo. É com base nesse efeito defasado das decisões do Copom que os principais analistas econômicos afirmam que o PIB de 2022 será muito próximo de zero ou mesmo negativo. O governo contesta tal projeção. É do jogo. Mas uma coisa é certa: haverá uma combinação nefasta no país, de juros nas alturas e inflação acima do aceitável.
Dentro do BC, o clima é de frustração. Não sem motivo. A inflação será praticamente o dobro do teto da meta, de 5,25%, prevista para o ano. As estimativas para 2022 também já estão acima do topo, de 5%, definido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). O sentimento de derrota se torna maior porque boa parte da inflação que a instituição tenta combater é resultante de equívocos do próprio governo. As crises criadas pelo presidente Jair Bolsonaro empurraram o dólar para cima, contaminando todas as cadeias de preços. Além disso, o Ministério da Economia patrocinou estripulias na área fiscal, sobretudo por meio da PEC dos Precatórios.
A perspectiva é de que, mantida a mão pesada do BC sobre os juros, a inflação cairá à metade ao longo do ano que vem. Mas, por enquanto, isso é mais torcida do que realidade. A carestia assola todo o mundo, reflexo da falta de insumos num quadro de retomada da demanda pós-pandemia. Espera-se uma normalização da oferta nos próximos meses. Contudo, o estrago está feito e, em países como o Brasil, em que o governo cria uma confusão atrás da outra, a situação se agrava. É importante ressaltar que com inflação não se brinca. E o histórico brasileiro é péssimo. São os mais pobres os principais prejudicados. O Banco Central está fazendo o que lhe cabe para tentar botar a casa em ordem. Sozinho, porém, pode muito pouco.
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