O título deste texto foi copiado da manchete do jornal Aqui/DF publicado no último sábado. A notícia de mais um caso de feminicídio no Distrito Federal deixa a cidade em choque diante de uma mazela que insiste em se repetir. Giovanna Santos, de apenas 20 anos, foi covarde e cruelmente assassinada pelo namorado, Leandro Marques, 22, após uma discussão banal por ciúmes. A polícia agiu rápido e, com muita competência, desmascarou o criminoso, que, dissimuladamente, em contato com a família da vítima, prometeu ajuda para localizar a moça que havia sepultado grosseiramente sob pedras em um matagal em Taguatinga.
Dois jovens que se perdem de forma brutal. Giovanna parte cedo demais, não terá uma segunda chance. Deixa sonhos irrealizados e uma família devastada pela dor. Não há justiça capaz de reparar tamanho dano, mas é preciso fazê-la. Do outro lado, Leandro renuncia à liberdade, perde precioso tempo para aprender a viver. Abandona conquistas sem, de fato, desfrutá-las. Por certo, também, transtorna familiares que jamais imaginariam uma ação tão hedionda praticada por um ente querido. A prisão parece pouco para o feminicida, mas é o que se tem por ora.
Estranho pensar que uma relação amorosa, em que o prazer se faz premissa, descambe para episódios de tamanha violência. Triste saber que a secular pandemia machista ainda provoque tanta dor e de forma tão frequente, sem uma vacina aparente. O que faz um homem, na flor da idade, tomar-se de insana fúria a ponto de agredir, ceifar uma vida e se arruinar desgraçadamente por anos atrás das grades? Possivelmente, a última alternativa não passa pela mente do criminoso — o que, talvez, evitasse a tragédia —, mas não deveria ser este o principal motivo para driblar a hedionda ocorrência.
Há algumas semanas, o cantor Tiago Iorc lançou canção em que discute o significado de ser homem no mundo. Na faixa Masculinidade, o artista reflete sobre afeto, poder, sexo, vícios e outros temas em torno do universo de interesses masculinos. É preciso desconstruir o macho arcaico e possessivo para que possa nascer um ser humano capaz de valorizar virtudes como amor e respeito, colaborando positivamente para um mundo de paz e prosperidade. Infelizmente, no topo das paradas do sucesso, ainda predominam o mau gosto e a recorrente objetificação feminina, que embalam boa parte da dança da população. Fica difícil evoluir neste contexto cultural.
Que a dor e o luto da família da jovem Giovana e de tantas outras vítimas não sejam em vão. As autoridades públicas e a sociedade como um todo precisam reagir, transformando qualquer espaço possível em ferramenta para educação. Em vez de mais um cadáver de mulher, sepulte-se, definitivamente, sob pesadas pedras, o machismo nosso de cada dia.
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