Por ALDO PAVIANI - Geógrafo e professor emérito da Universidade de Brasília
A ciência e a tecnologia, sobretudo após o século 18 (meados de 1.700), têm cooperado para que a mobilidade das pessoas se faça cada vez com menor esforço. De fato, as pessoas se deslocam de um lugar para outro não mais usando as próprias pernas, mas com as patas de cavalos ou bois, atrelados a carruagens. Posteriormente, as ferrovias ganharam espaço, sobretudo em países continentais (Rússia, China, Canadá, Estados Unidos, Índia). O Brasil, mesmo com seu vasto território, possui malha ferroviária de 29 mil quilômetros, que é menor do que a da Argentina (quase 37 mil quilômetros). Com isso, no Brasil, o transporte de passageiros, matérias primas e produtos, não é feito por ferrovias , mas, sim, por rodovias — mais de 65 mil quilômetros de estradas de rodagem asfaltadas —, o que faz os bens transportados terem um frete agregado muito mais elevado do que se fosse realizado por ferrovia ou transporte aquáticos (rios e mar).
A opção por transportes rodoviários pode ter vantagens para a mobilidade de passageiros (rapidez), mas faz com que os custos de fretes de matérias-primas se ampliem nos transportes por caminhões. Além disso, a manutenção das estradas asfaltadas, tanto as federais (as chamadas BRs), quanto estaduais, onera os orçamentos do ente a quem cabe sua manutenção ao longo dos respectivos territórios. Esse modelo não tem previsão de acabar, o que faz pensar que, com a elevação do preço dos combustíveis (e mesmo o esgotamento dos poços de petróleo), o transporte rodoviário terá custos elevadíssimos e, aos poucos, se tornará inviável no futuro.
No meio urbano brasileiro, o transporte de pessoas se faz por ônibus, trens, mas, sobretudo, por automóveis, uma vez que a frota de ônibus não é compatível com o volume de passageiros a transportar. Recentemente, muitos optam pelo uso de motocicleta e bicicleta, ambos com baixo custo de uso, mas que enfrentam problemas no caótico transporte urbano, sobretudo no metropolitano. Abre-se parênteses para chamar a atenção de que o uso de bicicletas e motocicletas deveria ser por vias específicas, em razão do aumento de acidentes e mortes de ciclistas e motociclistas com poucas defesas frente aos pesados caminhões, ônibus e automóveis "donos" das vias, mormente em nossas metrópoles.
Apesar dos riscos existentes nas vias públicas, o uso de motocicletas e bicicletas tem aumentado significativamente. Nesse aspecto, o que os administradores urbanos têm feito para a implantação de passeios públicos, ciclovias e ciclofaixas para uso da população? Como se informam esses gestores e os legisladores urbanos para atender a demanda crescente dos urbanitas que usam motocicletas e bicicletas para ir ao trabalho ou para lazer? Estarão executando apenas grandes obras para facilitar os que usam automóveis? Ou já se tornaram sensíveis aos pedestres e aos usuários de bicicletas/motocicletas? Por outro lado, os legisladores urbanos estão informados a respeito da elevação do número de acidentes e de mortes?
O último aspecto merece cuidados especiais, uma vez que a mobilidade urbana exige, entre outros aspectos, que haja segurança das pessoas que se deslocam para o trabalho (commuting) ou que, simplesmente, caminham para se manter saudável. Nesse sentido, vale ressaltar as campanhas educativas existentes em diversas capitais, tanto pelos respectivos Detrans quanto pela Polícia Militar. No caso de Brasília, registram-se campanhas em muitas avenidas, que também serviram para coibir os motoristas que trafegavam sob o efeito de álcool.
Um aspecto que ainda merece avaliação é o efeito da covid-19 sobre a mobilidade das pessoas. Com a pandemia, a recomendação, que persiste até os dias atuais, é a de que todos devem evitar aglomerações, manter as mãos higienizadas e usar máscara. Em teoria e por alguns meses isso foi se mantendo, mas, passados quase dois anos, muitos se cansaram do isolamento e foram para as ruas, bares, restaurantes, usando muitas vezes ônibus superlotados.
Por isso, ocorreram, no caso do Distrito Federal, mais de 11 mil óbitos, com 517 mil pessoas infectadas, das quais 97% se recuperaram (505 mil pessoas), em fins de novembro de 2021. Nesse mesmo período, o Brasil registrava 22.009.970 casos, com 612.700 mortes e 128.743.050 de pessoas vacinas com a primeira e segunda doses. Talvez as pessoas comecem a se movimentar, saindo às ruas, confiante na vacinação. Mas a nova cepa, ômicron, detectada há 15 dias na Europa, venha a estabelecer novas restrições à mobilidade.
No caso de Brasília, não haverá eventos públicos no Natal, ano-novo e os festejos carnavalescos foram cancelados. Assim, quem tem juízo irá atender as recomendações de "fique em casa", "evite aglomerações" e "use máscara" ao sair de casa.
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