Há pouco mais de quatro anos, às vésperas do Dia das Crianças, um incêndio criminoso matou 10 alunos do ensino infantil e três adultos na creche Gente Inocente, em Janaúba (MG). Dezenas ficaram feridos. Hoje, além das sequelas da barbárie, as vítimas sofrem com o descaso do poder público.
Reportagem do Estado de Minas mostra que as famílias atingidas — a maioria de baixa renda — ainda lutam na Justiça para que o município pague a indenização. Elas recebem da prefeitura, a título de reparação antecipada, de R$ 500 a R$ 1 mil por vítima. O valor é insuficiente para cobrir procedimentos médicos e remédios.
Uma dessas vítimas é Flávia Nayara, que, à época, tinha 4 anos. Ela sofreu queimaduras em 80% do corpo. Os pais tiveram de largar os empregos para cuidar da menina. Eles têm outro filho e sobrevivem com apenas R$ 1 mil por mês da antecipação da indenização. O pai da criança, Flávio Silva, diz agradecer a Deus pela vida da filha. Conta que ela está "sempre com o sorriso no rosto" e não se intimida ou tem vergonha das marcas no corpo. Ele lamenta, porém, que "muitos colocaram a tragédia no mar do esquecimento".
Crianças que sofreram tanto, que foram atacadas covardemente de forma brutal não encontram amparo suficiente para se recuperar fisica e psicologicamente. É mais uma prova de que o poder público segue ignorando — em Janaúba e no resto do país — a determinação da Constituição, em seu artigo 227: "É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão". Destacou a "absoluta prioridade".
Enquanto o Estado falha em suas atribuições, os atingidos apelam à solidariedade da população. A associação dos familiares das vítimas e sobreviventes vai retomar a campanha SOS Gente Inocente. Na época do crime, o grupo recebeu cerca de R$ 900 mil de doações enviadas de todo o país. Parte do dinheiro, R$ 250 mil, foi usada em obras nas casas das famílias para que pudessem receber de volta as crianças em recuperação de queimaduras graves.
Algumas edificações eram tão precárias que tiveram de ser demolidas e reconstruídas. O restante do valor tem sido usado para assistência às 83 famílias atendidas pela associação. Os recursos, no entanto, estão quase no fim.
Quem quiser contribuir pode fazer a doação em nome da Associação Creche Gente Inocente: Caixa Econômica Federal, agência 0937, operação 013, conta poupança 61.841-8. É uma forma de ajudarmos essas tantas crianças atingidas pela violência.
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