VINICIUS LAGES - Ex-ministro do Turismo, diretor do Sebrae Nacional e hoje é diretor-técnico do Sebrae Alagoas
Um dia a Europa foi o centro do mundo... E isso não faz muito tempo... No início de novembro, os olhos do futuro estavam voltados para aquele continente. Enquanto em Glasgow, na COP26, as nações se reuniram para buscar uma revisão do tratado de Paris que garantisse a efetividade nas ações que o ambiente demanda, em Lisboa, no WebSummit, cidadãos de todas as partes do mundo buscavam entender os desafios que a tecnologia nos impõe no início do terceiro milênio.
O WebSummit é considerado o maior evento de empreendedorismo e inovação da Europa, ou a "Davos dos geeks", para a Bloomberg, e apresentou, em 2021, números superlativos. Foram mais de 42 mil participantes de 128 países, pela primeira vez com 50,5% de participação feminina, envolvendo 211 parceiros, 784 palestrantes em múltiplas arenas e workshops, 1.519 startups, 872 investidores e 1.878 jornalistas do mundo inteiro. Esse é o evento dos desejos de Brasília. Nossa capital quer, também, ser o centro das atenções e mostrar que, onde o poder político se encontra, as iniciativas disruptivas podem ser acolhidas. Atrair talentos, fundos de investimento, inovação.
Em que pese a presença das bigtechs e de centenas de empresas de base tecnológica, o WebSummit 2021 foi mais sobre o impacto das tecnologias em nossas vidas, negócios, política, do que sobre tecnologias em si. Temas relevantes do momento, como privacidade, assimetrias na relação entre desenvolvedores de aplicativos e as plataformas IOS e Android, a falta de transparência e regulação dos algoritmos, avanços da inteligência artificial sobre todas esferas da vida, o metaverso, as NFT (non-fungible tokens), os criptoativos, cloud computing, smart cities, Metaverso, blockchain, fizeram parte dos múltiplos debates.
A retomada do evento presencial foi uma chamada para voltarmos ao humano e entendermos o mundo pós-pandemia em que o equilíbrio entre o virtual e o presencial é obrigatório e que, por vezes, se confundem em metaversos variados. Para conviver nesse novo "normal", é necessário mais colaboração da inovação aberta acelerada em rede global. Acelerar respostas como a das vacinas, que encurtaram a distância entre a pesquisa e a aplicação. Mas também como as empresas de tecnologias e os fundos de investimentos poderão acelerar uma transição para uma economia de menor impacto de carbono, mais orientada pelos ODS, ESG, e até mesmo regenerativa dos danos causados pelos modelos econômicos atuais.
Muitos debates trataram das assimetrias causadas pela concentração no domínio dos algoritmos, dos direitos usurpados pelas plataformas, das margens de receitas desproporcionais e do poder das plataformas da Apple e Android sobre os desenvolvedores de aplicativos. A retomada de redes sociais "em escala humana" é uma opção, sem os algoritmos que amplificam, que alimentam a desinformação e a disseminação de discursos de fake news, ódio, racismo, xenofobismo. A relevância na web não reside no grande número de seguidores, mas na capacidade de produzir conteúdo com credibilidade, apesar das centenas de influenciadores com bases gigantescas de seguidores construindo "verdades"; manipulando opiniões e escolhas; e sustentando marcas.
A desigualdade digital também foi um tema de interesse, em um mundo onde há 3,7 bilhões de pessoas sem internet ou acesso à economia digital. Isso ficou mais evidente na pandemia com o movimento Digital right as human right!, que pretende pautar o acesso e a inclusão digital como prioridades.
Tim Bernes Lee, criador da www (world wide web), falou da necessidade de se criar uma nova geração de internet, para além da web 3.0 ou do metaverso. Lamentou que sua criação não se desenvolveu como imaginava, até porque não previu o surgimento de redes sociais e da manipulação de dados na escala vista hoje em dia. Ele chamou atenção para a concentração e assimetria de poder que o mundo digital trouxe, o que coincidiu com um sentimento generalizado nos debates sobre os impactos das tecnologias sobre nossas vidas.
Essa viagem ao futuro, que se renova a cada edição do Summit, é um testemunho de fé na força do conhecimento, da inovação e de seu poder causal de transformação. A aposta do Governo do Distrito Federal é acertada. Trazer uma edição no Brasil do Websummit para Brasília, posicionando de vez nossa capital como um hub de inovação do país.