"A vacina implanta um microchip no corpo humano que permitirá o rastreamento do cidadão por toda a vida. O imunizante contra a covid-19 modifica o DNA humano. Voluntários morreram em testes de vacinas desenvolvidas contra o coronavírus. Quem se vacina vira jacaré. Vacinas facilitam o surgimento de variantes letais. Pessoas que completam o ciclo de imunização podem adquirir mais facilmente o HIV, vírus causador da aids. O fármaco contra o Sars-CoV-2 cria um campo magnético no braço." Acredite se quiser, mas muita gente crê nesse tipo de baboseira. Ainda. Apesar da drástica redução nos casos de mortes e de infecção pela covid-19, fruto da vacinação em massa. A despeito de como a vida começa a retornar lentamente ao eixo normal depois de um período avassalador em que chegamos a 4 mil mortes por dia. Apesar da inação de um presidente que, tantas vezes, alimentou e corroborou fake news sobre a vacina — há quem diga que para provocar a chamada imunidade de rebanho.
Vacinas salvam vidas. Provavelmente, o fato de estarmos com a saúde preservada se deva ao milagre da ciência. A mesma negada tantas vezes por obscurantistas que preferem semear sombra a viver na luz. Conheço algumas pessoas que aparentavam ser bem informadas e mentalmente sãs, mas que, não sei se por fanatismo político ou cegueira ideológica, abraçaram essas teorias estapafúrdias. Cidadãos assim tentam sustentar suas mentiras até o dia em que perdem algum familiar ou um amigo para a covid-19. Engana-se quem pensa que negacionismo é coisa de terceiro mundista. Vários países da Europa caminham mais uma vez para o desastre sanitário por culpa dos céticos, de quem rejeita a ciência.
Na Romênia, corpos são empilhados do lado de fora dos necrotérios. Boa parte deles era de cidadãos que se negaram a receber a vacina. Na Áustria e na Holanda, milhares saíram às ruas para protestar contra o lockdown, a única medida efetiva para achatar a curva de contágios e diminuir o número de mortes. Na Alemanha, a chanceler Angela Merkel estuda impor medidas rígidas de distanciamento social para tentar reverter o estrago causado pelos negacionistas. Sem adotar a quarentena, algumas nações europeias correm o risco de assistir a uma explosão de infecções e alimentar variantes talvez mais mortíferas e resistentes às atuais vacinas. Uma receita para o fracasso.
Mais do que bom senso, rejeitar fake news e negacionismo é se apegar à vida e respeitar o próximo. Dia desses, uma colega jornalista morreu, em meio a um ataque de asma. Estava sozinha em casa, em Goiânia. No mesmo dia da morte, outra jornalista (pasmem!) publicou nas redes sociais uma foto da falecida com o selo de "jacaré" e fez criminosa alusão de que a vacina a teria matado. Gente assim, infelizmente, se vê aos montes em uma sociedade ultraconservadora e polarizada pelo ódio. Gente assim precisa ser educada, mas também punida por seus excessos. Devemos dizer não aos negacionistas. Devemos dizer sim à vida.