Às vésperas da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2021 (COP26), realizada de 31 de outubro a 12 deste mês, em Glasgow, na Escócia, o relatório do Instituto Nacional de Pesquisas Especiais (Inpe) informou ao governo que 13.235km² de flora nativa foram dizimados na Região Amazônica — um aumento de 22% na comparação com o período de agosto de 2020 a julho último. O documento do Inpe só foi divulgado ontem, 17 dias após o encerramento da COP26.
A destruição da floresta é resultado de ações irresponsáveis e criminosas de invasores de áreas preservadas, que não encontram nenhuma reação do poder público. O desmatamento avança vertiginosamente e esvazia os discursos e compromissos tanto do presidente quanto de seus auxiliares de preservação do patrimônio natural da maior floresta tropical do planeta. Dificilmente, o Brasil conseguirá conter a devastação da Amazônia até 2030, conforme anunciou o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Pereira Leite.
Os órgãos de fiscalização da pasta — Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMbio) — foram desmontados na gestão do então ministro Ricardo Salles, e assim permanecem. Além disso, havia a recomendação expressa de reduzir as sanções pecuniárias, dificultar a aplicação de multas, num franco favorecimento aos predadores ambientais.
Nada mudou. As porteiras continuam abertas para passar a boiada.
A inércia federal ante as ações predatórias do meio ambiente, especialmente da Amazônia, reforça o descrédito do Brasil diante de outras nações e afasta investidores nacionais e estrangeiros, engajados na luta global para mitigar os danos das mudanças climáticas. Mas não só isso. Os efeitos do desmatamento e das queimadas têm afetado o equilíbrio climático no país.
O regime de chuvas foi alterado e o governo chegou a supor que enfrentaríamos racionamento de energia. A saída foi o uso mais intenso de termelétricas, com grave impacto no bolso do brasileiros e, nessa esteira, no aumento da inflação.
O agronegócio, um dos principais esteios da economia brasileira, também se ressente com as alterações do clima. Ou seja, o desequilíbrio ambiental interfere diretamente na economia do país, que passa por um dos seus piores momentos. Além de inflação e juros em alta, há o desemprego, a fome e a miséria que se espraiam pelos quatro cantos do país.
Apesar de todos os estudos indicarem que a preservação da floresta em pé é essencial para o desenvolvimento do país, o governo insiste numa política de dizimação do patrimônio natural para abrir novas frentes agropecuárias, permitir a exploração mineral em áreas preservadas ou ocupadas pelas populações originárias e tradicionais. Essa opção só tem colaborado para comprometer a imagem do Brasil ante as nações cientes de que essa trajetória está na contramão do esforço global para o enfrentamento das mudanças climáticas e da defesa dos direitos humanos. Os danos de uma política antiambiental não têm como ser mascaradas.