OPINIÃO

Descontrole da inflação

A inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) mostra que os consumidores estão longe de ter alívio no orçamento doméstico. Em outubro, quando se esperava o início do processo de desaceleração do custo de vida, o indicador registrou alta de 1,25%, superando todas as estimativas do mercado. É o pior resultado para o mês desde 2002. No acumulado de 12 meses, o IPCA chegou a 10,67%, praticamente o mesmo nível observado no pior momento do governo de Dilma Rousseff, de 10,71%, em janeiro de 2016 — ela sofreu impeachment em maio daquele ano.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o quadro é ainda pior para as famílias mais pobres, com renda mensal de até cinco salários mínimos. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor cravou elevação de 1,16% em outubro e de 11,08% no acumulado de 12 meses. Em capitais como Curitiba, a taxa caminha para 14%. O INPC é usado para a correção de aposentadorias e pensões do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e serve de referência para as negociações salariais do setor privado. Apesar de sua disparada, apenas dois em cada 10 acordos têm garantido a reposição inflacionária.

O presidente Jair Bolsonaro tem insistido que a inflação é culpa do "fique em casa" da pandemia do novo coronavírus. Joga ainda a responsabilidade sobre governadores, por causa do ICMS, imposto que incide sobre os combustíveis. Não assume, porém, a responsabilidade dele pela disparada do dólar, que empurra os valores da gasolina e do diesel para cima, assim como os de todas as demais cadeias de preços. A moeda norte americana está acima de R$ 5,50 e pode passar dos R$ 6 em 2022 se o governo insistir com sua política fiscal irresponsável com fins eleitoreiros.

É importante lembrar o triste histórico da inflação no Brasil. O longo período de preços em alta, interrompido com a edição do Plano Real em 1994, foi o principal responsável pelas enormes desigualdades sociais do país. Tão logo o custo de vida caiu para níveis civilizados, como se viu nos governos de Fernando Henrique Cardoso e de Luiz Inácio Lula da Silva, foi possível incorporar milhões de pessoas ao mercado de consumo. Desde 2015, porém, a inflação insiste em dar as caras, recrudescendo na administração Bolsonaro. O resultado disso é um aumento inaceitável da pobreza e da miséria.

Com inflação, não se brinca. E jamais se deve baixar a guarda. Infelizmente, no atual governo, menosprezou-se o poder da Velha Senhora. Por um bom período, o Banco Central insistiu no discurso de que a volta do dragão era temporária. Tanto que se marcou prazo para a desaceleração do custo de vida. Primeiro, julho. Depois, agosto, setembro e, por fim, outubro. A carestia, no entanto, não dá trégua. Não só permanece em alta, como as expectativas para os próximos anos estão se descolando das metas perseguidas pelo BC. A consequência, todos já sabem: mais aumento de juros — neste ano, a taxa básica (Selic) saltou de 2% para 7,75% —, atividade econômica perdendo força, com risco de recessão, e desemprego.

Portanto, é preciso agir rápido, antes que a inflação saia do controle. Combustíveis, energia elétrica e gás de cozinha têm forçado o IPCA para o alto, mas todos os grupos de preços monitorados pelo IBGE estão aumentando. De cada 10 produtos e serviços, sete computam reajustes. Não será com discurso negacionista, como na pandemia, que se conseguirá reverter esse mal que pune, sobretudo, os mais vulneráveis. São necessárias ações concretas, como disciplina fiscal, reformas estruturais, menos turbulências políticas e incentivos à produção e ao emprego. Desviar desse caminho será reviver tudo o que de pior o Brasil enfrentou por mais de duas décadas. O país não merece tamanho castigo.

 

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