Charlatanismo
O eleito pela elite do atraso — conforme termo cunhado pelo sociólogo Jessé Souza — acredita ser o remédio para todos os nossos males. Porém, não oferece nada de concreto para solucioná-los. Como bem disse Machado de Assis (1839-1908), essa gente sofre de complexo de Brás Cubas: "Com efeito, um dia de manhã, estando a passear na chácara, pendurou-se-me uma ideia no trapézio que eu tinha no cérebro. Uma vez pendurada, entrou a bracejar, a pernear, a fazer as mais arrojadas cabriolas de volatim que é possível crer. Eu deixei-me estar a contemplá-la. Súbito, deu um grande salto, estendeu os braços e as pernas, até tomar a forma de um X: decifra-me ou devoro-te. Essa ideia era nada menos que a invenção de um medicamento, um emplasto anti-hipocondríaco, destinado a aliviar a nossa melancólica humanidade. Na petição de privilégio que então redigi, chamei a atenção do governo para esse resultado, verdadeiramente cristão". Ali se escondia o egoísmo visceral de Brás Cubas. Por trás do remédio fajuto, o incorrigível narcisista — preocupado somente com os louros da fama sem o esforço do trabalho — deixava por revelar o seu verdadeiro projeto de poder: "Assim, a minha ideia trazia duas faces, como as medalhas, uma virada para o público, outra para mim. De um lado, filantropia e lucro; de outro lado, sede de nomeada. Digamos: — amor da glória". Sem comprovação científica, o Emplasto Brás Cubas de ontem é a Cloroquina Jair Bolsonaro de hoje. Colecionando inúmeros fracassos no combate à covid-19, o presidente da República, charlatão na linha de Brás Cubas, concedeu a si mesmo o título de Grão-mestre da Ordem Nacional do Mérito Científico. Machado já nos avisava sobre a lógica brejeira, cínica e dissimulada da política reinante no Brasil.
Marcos Fabrício Lopes da Silva,
Asa Norte
Maquiagem
O presidente Jair Bolsonaro — aquele que prometeu ser implacável no combate à corrupção e fortalecer a Operação Lava-Jato — anunciou sua filiação ao PL, partido de Valdemar da Costa Neto, figura carimbada das crônicas judiciais e policiais por envolvimento em desvios de recursos públicos. Apesar de grande, o PL está entre as legendas de aluguel, da turma do toma lá dá cá. No início da semana, li uma notícia que Bolsonaro adotará nova performance na disputa eleitoral de 2022. Não consigo sequer imaginar qual será a maquiagem que usará no próximo ano, mas tenho certeza de que nada poderá amenizar a face exibida em três anos de governo, como o pior, mais incompetente e cruel presidente da República, desde 1985, quando o Brasil se reencontrou com a democracia.
Joaquim Honório,
Asa Sul
Pedigree
Está em festa o zoológico de Brasília, com o nascimento de dois filhotes machos de onça-pintada (9/11). O público animado votou para escolher nomes para os felinos. Amigos-da-onça despejaram votos em figuras públicas manjadas. Pilantras querendo estragar a votação. Confundiram os bichos. Imaginavam que votavam para dar nomes a duas hienas nascidas no mesmo zoo. Nesse sentido, apareceram votos para Arthur Lira, Valdemar da Costa Neto, Bolsonaro, Eduardo, Flávio e Carlos, Davi Alcolumbre, Onyx Larenzoni, Marcelo Queiroga, Eduardo Pazuello, Ciro Nogueira, Eduardo Girão e Marcos Rogério. Perderam tempo. Porque as onças nasceram com pedigree de boa família.
Vicente Limongi Netto,
Lago Norte
Marília Mendonça
Vi pela televisão o avião sobre as pedras da cascata; ouvi a notícia do resgate do seu corpo, mas não consegui acreditar que tamanha tragédia havia acontecido. Eu fiquei fora de mim. Enquanto você estava sendo velada, houve momentos em que eu imaginei: Ah! Se ela se levantasse e dissesse que estava brincando com a multidão que chorava a sua partida. Seria o fim da nossa grande dor. Mas era verdade, Marília, você nos deixou para sempre, e está difícil "aceitar para doer menos". Marília, descanse nos braços de nosso Senhor. Aos familiares, amigos e fãs, os meus sentimentos.
Jeovah Ferreira,
Taquari