OPINIÃO

O luto persiste

Milhares de brasileiros choraram, desde sexta-feira, a trágica morte da compositora e cantora Marília Mendonça, 26 anos, em acidente aéreo. O pranto passou a fazer parte do cotidiano dos brasileiros, desde o início do ano passado. A pandemia do novo coronavírus se alastrou em todo o país, como rastilho de pólvora. Mais de 5 milhões de pessoas, no mundo, estão enlutadas ante o desenlace de pais, filhos, avós, companheiros, amigos.

Só no Brasil, são 609 mil óbitos, segundo os dados deste sábado. Mais de 130 mil crianças ficaram órfãs, entre elas pelo menos 13 mil estavam na faixa de menos de um a seis anos. Estima-se que, a cada um minuto, o país teve uma criança ou um jovem que perdeu a mãe, ou o pai, ou ambos para o vírus. O avanço da vacinação ainda é insuficiente para conter a proliferação do vírus e de suas variantes, mais agressivas e letais, principalmente para os idosos. Foram mais de 21 milhões de brasileiros infectados.

No meio artístico, os brasileiros viram os palcos ficarem mais vazios, com menos brilho de estrelas consagradas. Em vez de risadas, muitas lágrimas; em lugar de belas canções, o pranto incontrolável pela dor das perdas. A Sars-Cov2 interrompeu ou antecipou o fim da carreira, entre outros, de Paulo Gustavo, Tarcísio Meira, Nicette Bruno, Paulinho do Roupa Nova. Eduardo Galvão, Aldir Blanc, Nelson Sargento, Ismael Ivo, João Acaibe. A lista de celebridades dos artistas que tiveram sua vida arrancada é muito extensa.

A covid-19 tornou o Brasil mais triste e acabrunhado. Estamos longe da normalidade de antes da pandemia. A pouco mais de dois meses de 2022, menos de 60% da população do país está completamente vacinada. O reforço previsto para os idosos e pessoas com graves comorbidades ainda não alcançou 5% dessa parcela da sociedade. A recidiva da epidemia avança na Europa. Diante da inexistência de barreiras sanitárias e fluxo de pessoas pelo mundo, não há como descartar que o Brasil enfrente uma outra onda da pandemia, assim como vem ocorrendo na Alemanha.

O país está mais turvo diante da crise social e econômica que afeta expressiva parcela de cidadãos. Milhões de pessoas tentam sobreviver em meio a uma situação de extrema vulnerabilidade, fragilizadas pela fome e pelo desemprego. Brasileiros sem perspectivas, a curto prazo, de darem a volta por cima e ter uma vida normal, mesmo com limitações financeiras. Faltam políticas públicas eficazes para aliviar o sofrimento social e que apontem para um cenário luminoso, em que o enredo seja a construção de país voltado ao bem-estar social.

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