OPINIÃO

Um avanço para todo o Brasil

Em meio às incertezas que recheiam as previsões para a economia brasileira em 2022, o governo levou a leilão ontem as frequências da rede de 5G, com as grandes operadoras de telefonia vencendo os principais lotes. Mesmo com atraso em relação a outros países, o Brasil deve ser o primeiro país da América Latina a contar com redes móveis e de internet na nova tecnologia que promete revolucionar o dia a dia das pessoas. A previsão do governo é de que em 20 anos a nova rede de telecomunicações movimente R$ 169 bilhões, com impactos em vários setores que podem multiplicar esse valor para R$ 1,2 trilhão, segundo projeção do Ministério das Comunicações. Apenas na implantação das redes devem ser gerados 200 mil empregos diretos.

O leilão ocorreu 23 anos, três meses e seis dias depois de o Sistema Telebras ser privatizado na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro. Desde então, o Brasil trocou um sistema de telecomunicações que serviu ao desenvolvimento no passado, mas tornou-se ineficiente e engessado, por serviços privados. De lá para cá, foram ofertadas quatro gerações de telefonia móvel e internet e os dispositivos móveis se multiplicaram pelo país, com a tecnologia sendo assimilada por toda a população. Hoje, o país tem cerca de 424 milhões de dispositivos móveis, sendo que destes 242 milhões são aparelhos celulares.

Com a promessa de velocidades muito acima das atuais na conexão de dados e taxa de latência (resposta) praticamente instantânea, a tecnologia 5G vai representar um salto em todos os setores ao permitir uma maior agilidade e precisão nos processos. Na indústria, a internet das coisas permitirá integração e conexão entre fábricas remotas, no campo, vai permitir uso de drones para supervisionar áreas imensas, com identificação pontual de problemas. Nas ruas, carros e caminhões autônomos, como os 200 táxis que a Tesla acaba de colocar em circulação na Flórida e que rodam sem motorista. Na medicina, será possível um cirurgião nos Estados Unidos realizar uma cirurgia de um paciente no Brasil.

Mas se o horizonte da tecnologia é entusiasmante e o leilão foi feito com pompa e circunstância, é preciso que, como ocorreu no leilão da Telebras, a tecnologia seja levada a todos os brasileiros no menor espaço de tempo. Hoje, os celulares e as redes sociais são a opção de sobrevivência para um número grande de empreendedores individuais ou prestadores de serviços e não é justo que a tecnologia traga ganhos gigantes para todos os setores e deixe de atender a esses brasileiros. É preciso que haja universalização e um barateamento do 5G a partir do ganho de escala que o mercado brasileiro oferece.

Embora o governo manifeste — e com razão — muito otimismo com os ganhos da nova tecnologia, é preciso lembrar que estamos no Brasil, um país de dimensões continentais e diferenças econômicas e sociais entre as diversas regiões. Nesse contexto, é preciso que o governo, por meio da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), garanta que as exigências no edital sejam cumpridas, mesmo que o fato de apenas 19 cidades terem legislações apropriadas para as novas antenas que são necessárias para dar suporte ao 5G, assim como a escassez de mão de obra qualificada, seja um desafio para as operadoras. É preciso que a implantação seja efetiva para que, em julho do ano que vem, todas as capitais tenham a rede 5G e, até julho de 2028, as cidades com mais de 30 mil habitantes estejam atendidas.

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