Dois temas distintos chamaram especial atenção na semana passada: a ameaça de uma nova onda de covid-19 e a invasão de garimpeiros no Rio Madeira. Cada um, à própria maneira, são assuntos que impõem enormes desafios à governança do país. Em comum, revelaram, em uma abordagem inicial, o despreparo, a incompetência e, possivelmente, a má intenção de certos escalões da administração pública no zelo aos interesses do bem coletivo.
O episódio no afluente do Amazonas é chocante e causa revolta. De repente, o país foi assaltado com as reveladoras imagens de caravanas de piratas roubando ouro do fundo do rio, causando contaminação da água e de peixes, que podem alimentar inúmeras comunidades da região. Alguns invasores ainda demonstraram assombrosa ousadia ao cogitar desafiar as forças de segurança, caso operação para deter os criminosos fosse deflagrada. Pelo visto, o desmonte da fiscalização ambiental ocorrido nos últimos anos e os discursos do presidente Bolsonaro, sempre tão simpático às ideias de exploração dos recursos naturais, mesmo sem maiores critérios técnicos e legais, parecem incentivar as ações de uma turba de devastadores aloprados.
Engana-se tremendamente quem supõe que o policiamento no país seja tão deficiente como, de fato, parece. Na verdade, em boa parte dos casos, faltam muito mais iniciativa e comando do que capacidade de ação. Prova evidente disso foi dada no fim de semana, quando dezenas de embarcações para garimpagem no rio foram destruídas pelas equipes de segurança. Tem gente graúda financiando o impactante crime ambiental: estima-se o valor de até R$ 5 milhões para cada draga usada na corrida ao ouro no Amazonas. É preciso aprofundar as investigações para que os responsáveis sejam punidos com todo o rigor da lei ou a sociedade brasileira continuará a pagar um alto preço pela malandragem de plantão.
Não menos tormentosa foi a notícia de que uma nova variante do coronavírus pode empurrar o mundo para uma quarta onda da pandemia. De início, o presidente Bolsonaro, sempre sábio e prudente, descartou o controle de viajantes na fronteira, especialmente aqueles vindos do continente africano. Boa parte do mundo não perdeu tempo e, por precaução, adotou a medida. Felizmente, a Anvisa e outras instâncias governamentais trataram de fazer o mesmo no Brasil. Não é o suficiente para impedir um possível agravamento da crise sanitária, mas deve ajudar.
Resta-nos a esperança de confiar na ciência e aguardar as análises sobre o real potencial da cepa ômicron. A experiência absolutamente traumática e recente mostra, de forma clara, os caminhos para se evitar o colapso das estruturas de saúde e a perpetuação do luto. Neste fim de ano, sugiro prudência: tomem vacinas, usem máscaras, mantenham as mãos limpas e não participem de aglomerações.
Se o presidente e os fanáticos que lhe seguem não atrapalharem, temos boas chances de atravessar este perigoso capítulo de forma mais segura. Eu, que não sou besta e tenho certa idade, apressei-me em tomar a dose de reforço do imunizante, tão logo foi disponibilizada. Por ora, apesar dos pesares, ainda quero viver.
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