Terminada a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima (COP 26), têm início as primeiras consequências desse encontro. Para aqueles países, onde os governos ainda fazem pouco caso de assuntos dessa natureza, como é o nosso caso, confirmado ainda pela ausência do chefe do Executivo à reunião, é sempre bom lembrar que as consequências são tudo aquilo que vem depois.
Para o Brasil, assolado por um tipo bem particular e predatório de agronegócio e que, no atual governo, vem tendo amplo apoio e funciona como um salva-vidas para a economia estagnada, as novas diretrizes da União Europeia, proibindo a compra de commodities oriundas de áreas desmatadas, representa apenas o primeiro passo para pressionar rebeldes como o país e, especialmente, o governo, para que coloquem um sério limite à expansão desenfreada do agrobusiness sobre as florestas.
Não adianta espernear e fazer carinha de muxoxo. O que se seguirá, com esses boicotes iniciais, podem trazer prejuízos mais significativos para esse setor da economia, movido por interesses que, em alguns casos, vão muito além até do que o Estado pode regular. A União Europeia é um grande mercado para produtos como soja, café, carne bovina, cacau, madeira e óleo de palma, móveis e algumas outras mercadorias.
Não adianta também esconder o avanço do desmatamento e toda a destruição que vem sendo permitida pelo governo em nome da balança comercial. As centenas de satélites enxergam, noite e dia, o que se passa em regiões remotas, registrando, em tempo real, o avanço dessas monoculturas sobre o meio ambiente e o dispersar, displicente e intencional, e das manadas de bovinos sobre a vegetação nativa, numa espécie de avanço da destruição.
O desmonte dos órgãos de fiscalização do meio ambiente e o banimento de multas para os infratores que desmatam e queimam nossas reservas naturais serviram como sinal verde, dado pelo governo, para que os maus produtores rurais — aqueles que não produzem alimentos, mas, sim, lucros para si mesmos — avancem por cima da vegetação nativa sem receio de retaliações oficiais. São, na verdade, todos cúmplices de um mesmo e continuado crime, embora a coragem que demonstrem para destruir o meio ambiente lhes falte na hora de assumir as responsabilidades pelos malfeitos.
O mais incrível é que a União Europeia (UE) pode estar agindo, sim, por meio de um protecionismo comercial, disfarçado de preocupação ambiental. Os produtores de soja e criadores de gado se dizem vítimas de uma situação que eles mesmos criaram e propagam de olho em lucros imediatos e com total desprezo para com as gerações futuras.
É preciso entender que essas medidas contra a destruição do meio ambiente pelos produtores inescrupulosos, não parte apenas de governos dos diversos membros da UE. Parte significativa dessas medidas, restringindo a compra de commodities produzidas em áreas nativas, vem da população desses países e de organizações que mantêm essas sociedades informadas e atualizadas sobre os crimes ambientais que ocorrem em nosso país, com a benção do atual governo.
O consumo sustentável será um marco no século 21. Para isso, será preciso afastar pessoas e práticas que ainda insistem na produção de bens a qualquer custo. A falta de clareza deste governo sobre o que está em jogo no mundo atual e sua alienação sobre os desafios desta nova era podem custar muito ao Brasil, um país mundialmente desacreditado em questões ambientais.
Essa história de que nem o Brasil nem a União Europeia aceitam pressões é conversa para boi dormir. É preciso pousar a lupa em todo tipo de nacionalismo. Os que escondem a verdade e os que se escudam na falsa retórica.
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