Não fosse essa mania recorrente de bisbilhotar os bastidores e as idas e vindas dos políticos desse país, realizada por uma parte da imprensa, que ainda acredita que o dinheiro público, num país falido financeiramente, deve ser respeitado como algo sagrado e gasto, portanto, com parcimônia, pouco ou nada saberíamos sobre o festim permanente que essas elites no poder têm feito com os recursos suados dos pagadores de impostos.
Tem sido uma festa sem fim desde que o imperador Pedro II foi banido do Brasil, em 17 de novembro de 1889, por um golpe militar que instaurou, da noite para o dia, uma forma de governo muito particular, em que a coisa pública ou Res pública permaneceria à disposição daqueles que comandam a máquina do Estado para gastá-lo da maneira que melhor lhes aprouver.
De lá para cá, esse apossamento dos recursos públicos, extraídos a fórceps da população, só vem aumentando, na contramão dos investimentos necessários para a população, que diminuem a cada dia. Foi assim que chegamos à situação esdrúxula em que os recursos para o atendimento das necessidades básicas da população, como saúde, segurança, transporte e educação, entre outros, simplesmente deixaram de existir, enquanto o dinheiro para o atendimento clientelista e sem lastro ético de uma elite política e poderosa é abundante e despendido em mordomias que fariam corar de vergonha os marajás das Mil e Uma Noites.
Não é por outra razão que somos de um país onde mais de 50 milhões de brasileiros passam fome e onde os Poderes e as instituições públicas são as mais caras e ineficientes de todo o mundo. Não se sabe até quando esse modelo peculiar de República poderá resistir sem que a sociedade tome as devidas providências para estancar essa derrama injusta.
Graças à bisbilhotice do jornal Folha de S, Paulo, em sua edição de 22/11, ficamos informados que autoridades dos Três Poderes da República passaram uma semana na aprazível cidade portuguesa de Lisboa sob o pretexto de participarem do IX Fórum Jurídico de Lisboa, entre os dias 15 e 17 deste mês. Para o "dolce e bel far niente", torraram a módica quantia de R$ 500 mil, entre passagens, hospedagens e diárias, pagas pelo contribuinte, não se sabe com que finalidade nem propósito.
Nesse fórum, organizado pelo Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa, nome pomposo dado a uma entidade privada, que a Folha de S. Paulo afirma ser de propriedade do ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes e de seu filho, estiveram presentes autoridades dos Três Poderes da República, inclusive do Tribunal de Contas da União (TCU) para o caso de haver alguma interpelação pública sobre esses gastos de "extremo" interesse da nação.
De concreto, o que resultou desse fórum — um convescote político feito às expensas da população, que fica sabendo dessas reuniões, graças apenas à mania de parte da imprensa em mexericar a vida opulenta das elites instaladas nos Três Poderes — ninguém sabe, nem mesmo aqueles que estiveram nessa reunião aproveitando também a camaradagem gratuita dispensada a essa gente pelos aviões da Força Aérea, há muito transformados numa espécie de empresa de turismo à disposição das elites do Estado.
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