Por ANDRÉ GUSTAVO STUMPF - Jornalista (andregustavo10@terra.com.br)
Desde os governos militares, os presidentes brasileiros demonstram preocupação com a imagem do Brasil no exterior. Os comunicados oficiais alertavam que os inimigos da pátria trabalhavam para prejudicar ou manchar a maneira como estrangeiros enxergavam o país. Naquela época, os diplomatas brasileiros no exterior mudavam de calçada para evitar encontrar brasileiros no exílio.
Os governos militares, de fato, não tinham grande prestígio nos países europeus por causa da restrição aos direitos civis, censura à imprensa e tortura de presos políticos. Nos Estados Unidos, a questão era outra: a enorme dívida externa. O ministro Delfim Netto, certa vez, disse que dívida não se paga. Ela deve ser rolada. Assim foi feito. O governo brasileiro enviou diversas cartas ao Fundo Monetário Internacional aceitando as exigências de bom comportamento fiscal.
Não cumpriu a maioria delas, até que teve de renegociar com os credores, depois de o país ter entrado em situação falimentar. O Banco do Brasil ficou sem recursos no exterior. O crédito interbancário secou. A negociação com os credores se tornou urgente. E ocorreu de maneira correta. Hoje o país não tem mais a dívida externa, em compensação possui enorme dívida interna, o que coloca os bancos nacionais em berço esplêndido. Eles têm um único grande cliente que paga as maiores taxas de juro do mundo. É doce ser banqueiro no Brasil.
O governo brasileiro não dispõe dos recursos necessários para financiar o desenvolvimento nacional. É preciso construir estradas, hospitais, escolas, universidades, financiar pesquisas. Por essa razão, os ministros se lançam em viagens pelos principais centros financeiros do mundo em busca de investidores, que costumam exigir ambiente de paz, confiança, respeito aos contratos e aos pagamentos acertados. A imagem do Brasil no exterior é requisito essencial para atingir esses objetivos. Quando foi eleito, no colégio eleitoral, Tancredo Neves enviou seu fiel assessor Francisco Dornelles aos centros financeiros internacionais para garantir que o Brasil pagaria os juros da dívida externa.
Em seguida, Tancredo fez uma longa viagem à Europa e aos Estados Unidos. Falou de redemocratização, respeito aos direitos civis e garantia das liberdades, além da convocação da assembleia constituinte. Fernando Collor, após ser eleito, também fez um longo giro pelo mundo, passando por países europeus, depois Japão, Rússia e Estados Unidos. Fernando Henrique é um scholar, deu aulas no exterior, um homem do mundo. Não hesitou em viajar diversas vezes ao estrangeiro para exibir sua erudição. Ganhou a amizade do ex-presidente Bill Clinton. Passou temporadas em Camp David, casa de campo do primeiro mandatário norte-americano.
Quando presidente, Lula viajou muito ao exterior. Ele coordenou ações na Europa, com os partidos socialistas democráticos, além de aglutinar a esquerda latino-americana com seu apoio a Cuba, à Nicarágua e à Venezuela. Lula, hoje, não anda pelas ruas do Brasil. Ele é questionado por atos de corrupção em seu governo, que culminaram com sua prisão em Curitiba e de diversos auxiliares, inclusive, do então todo poderoso Antônio Palocci, que se transformou em delator. Por intermédio de uma série de manobras jurídicas, o ex-presidente foi libertado, mas nunca absolvido das acusações.
No exterior, ele caminha com desembaraço. Proferiu discurso impactante, em nível de estadista, diante do parlamento europeu. Aplaudido de pé. Falou na universidade em Paris, foi recebido com honras de chefe de Estado por Emmanuel Macron, na França. Conversou com Olaf Scholz, possível sucessor de Angela Merkel, na Alemanha, e com o primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sanchez. Lula faz no exterior o que não faz no Brasil. Bolsonaro, por sua vez, respondeu com um périplo pelos países árabes em busca dos petrodólares. No exterior, o chefe do governo trata de assuntos internos. Fala do conteúdo das provas do Enem e comunica o adiamento de seu possível casamento com o PL, presidido por Valdemar Costa Neto, condenado a sete anos de prisão por corrupção.
No exterior, os presidentes brasileiros discutem assuntos internos com mais facilidade. A repercussão interna é garantida. Aos estrangeiros, como no caso dos árabes, agora resta assistir sem entender o que faz o presidente naquelas plagas com enorme comitiva. Lula quer chegar ao Brasil envolto pela boa vontade dos principais líderes europeus. Bolsonaro pode dizer que foi buscar investimentos nos povos do deserto. Mas nem um nem outro, neste momento, têm condições de andar pelas ruas do país sem um poderoso séquito de seguranças.
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