Orçamento
Pensando bem, é até bom que deputados e senadores estejam propondo um assalto ao trem pagador das despesas públicas ao incluir no Orçamento da União para 2022 a destinação de R$ 5,7 bilhões para o Fundo Eleitoral. Atér ser vetado pelo presidente Bolsonaro e reduzindo para R$ 2,3 bilhões, somados aos R$ 1,1 bilhão do Fundo Partidário, dará aos políticos quase R$ 3,5 bilhões para o financiamento da próxima campanha eleitoral de 2022. E por que é bom? Porque a explicitação de um abuso dessa natureza por parte das autoridades legislativas dá margem a que nos perguntemos se, afinal de contas, temos de pagar pelo que chamam de "financiamento da democracia", mas que, na realidade, significa financiar as burocracias partidárias. Talvez seja uma boa hora esta agora para discutir se é o caso de o público pagante de impostos continuar dando boa vida a entidades de direito privado que se valem do dinheiro público sem entregar mercadoria de qualidade. Quando suas excelências radicalizam de lá, abrem espaço para que a sociedade radicalize de cá e, assim, se resolvam questões pendentes no cabide da inércia. Soa inconveniente a alegação de que é preciso "financiar a democracia". Sem o dinheiro de pessoas jurídicas, proibidas de doar, por essa visão a saída é pôr a mão no bolso dos brasileiros. Ora, viabilizar financeiramente a realização das eleições é uma coisa bem diferente de sustentar partidos e respectivos candidatos. No primeiro caso, cuidar-se da montagem da estrutura de votação, apuração e fiscalização, obviamente tarefa do poder público. No segundo, francamente, o justo seria que cada legenda ou pessoa que se dispusesse a pleitear representação popular cuidasse de si. A proliferação de partidos no Brasil decorre exatamente dessa confortável tutela, algo comparada à dos sindicatos nos tempos do imposto sindical, que os faz se acomodar no lugar de suar a camisa, de ir à luta em busca do próprio sustento à maneira do cidadão que trabalha para custear as despesas da casa, do empreendedor que labuta para fazer prosperar o negócio. O raciocínio soa esquisito, radical, excessivamente idealista? Pensando bem, nem tanto, porque é a tal história bem antiga: só se estabelece quem detém competência para oferecer eficiência.
Renato Mendes Prestes
Águas Claras
A fome
"Tem uma moeda aí, tio?". É o clamor sofrido das ruas. Vindo de crianças,adultos e adolescentes. Mãos estendidas. Caixinhas e latas de leite compõem o cenário frio, humilhante, melancólico. Vozes trêmulas. Pés descalços. A fome anunciada pelos olhos tristes. É o Natal chegando. Significa esperança de ganhar algum trocado para comer. Quem sabe, um natal menos amargo e dolorido. As caixinhas também são vistas em balcões de lojas, padarias, lavanderias, papelarias e bancas de jornais. Embora empregados, ninguém se acanha, o dinheiro é curto. Caixas e latas marcam a linha da fome e da miséria. Chegam juntas. A fome não tem hora para chegar. Semáforos, estacionamentos, portas de bares,restaurantes e de lanchonetes, fazem das caixinhas e latas o porto da esperança. Esperando a caridade de bondosos corações.
Vicente Limongi Netto,
Lago Norte
Decepção
No último dia 19, no Jornal Nacional, ao ver os esclarecimentos do vice-presidente da República, general Mourão, sobre o desmatamento da Amazônia, fiquei pensando: não teria sido melhor ele ter ficado de boca fechada, ao invés de culpar a população que mora naquela região? Eu considerava o general Mourão o contrapeso ao boçal do Bolsonaro. Creio que me enganei. Mas ninguém é perfeito.
Joanir Serafim Weirich,
Asa Sul
Vingança
A letalidade da Polícia Militar, principalmente no Rio de Janeiro, deveria ser alvo de um profunda e séria investigação. Há muito tempo, a PM fluminense deixou de ser guardiã da ordem e da lei, a fim de garantir a segurança da sociedade. Ela se tornou uma milícia vingativa, agindo como gangues, que se vinga de um grupo social quando um dos seus é morto no embate contra crimos. Nesse caso, a PM se iguala à marginalidade, aos criminosos de alta periculosidade. O que ocorreu no fim de semana na região do Salgueiro não deixa dúvida. Segundo a Defensoria Pública, pelo menos 14 pessoas foram mortas, entre elas três ou quatro meninas. Isso não se configura combate ao crime organizado, mas, sim, chacina premeditada. Até que ponto a PM é uma instituição indispensável à sociedade, quando age por vingança, por impulso e como executora da pena capital, quando nenhuma lei prevê a sanção extrema nem mesmo para os monstros que cometem penalidades gravíssimas, como estupro seguido de morte? Não tenho dúvida de que a ação será aplaudida pelo governo federal, incapaz — e não só os belicistas bolsonarianos — de estabelecer uma política de segurança pública para o Brasil.
Antônio Jofre Braga,
Lago Sul
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