De forma vergonhosa e melancólica, o Brasil consolida a imagem de grande devastador ambiental na atualidade, em um momento em que o mundo discute a emergência climática como um dos principais desafios a serem enfrentados nas próximas décadas. Os mais recentes dados oficiais sobre o desmatamento na Amazônia, divulgados na semana passada, evidenciam com absoluta clareza o descomunal despreparo (para não falar em hedionda má fé) do governo Bolsonaro frente às políticas de sustentabilidade. O presidente se recusa a reconhecer a veracidade das informações, debocha dos alertas científicos e dos apelos dos ecologistas, pois está comprometido com um conservadorismo arcaico, que remonta ao feudalismo e à escravidão — a conquista de riquezas por meio da exploração insensata da natureza e da população trabalhadora.
O presidente tem um ilustre cúmplice nesta jornada, que cobrará um alto preço na história da humanidade. O vice-presidente Hamilton Mourão, coordenador nos últimos anos das ações contra o desmatamento ilegal na Amazônia, carrega o demérito de manchar a imagem das Forças Armadas ao liderar uma fracassada campanha diante dos crimes ambientais na vasta e densa floresta do Norte do país. Em entrevista vestindo a anedótica máscara do Flamengo (esse é o nível de preocupação dos nossos governantes), o general da reserva demonstrou surpresa e disse que os dados oficiais precisam ser revistos. A exaustiva tática de negação diante do óbvio não engana ninguém, mas parece ser o único recurso da mais malfadada administração federal em tempos recentes.
Os números frios do PIB exaltam os sucessivos recordes do agronegócio brasileiro, mas a realidade concreta da população contrasta com as safras milionárias dos campos e outras cifras vultosas de atividades de alto impacto ambiental, como a mineração. Enquanto a fronteira agropecuária avança sem pudores, em descompasso com as exigências de qualidade e segurança ambientais, cresce o desconforto das comunidades periféricas, relegadas à vida em moradias precárias, saneamento inadequado, alimentação deficiente e reféns de violenta criminalidade. Um projeto inteligente de nação buscaria saciar essas carências com a devida necessidade de restauração do equilíbrio ambiental, fomentando iniciativas como a implantação de ecovilas e sistemas agroflorestais.
Enquanto os principais critérios de avaliação para tomada de decisões se restringirem aos volumes movimentados nas bolsas de valores e nas balanças comerciais, o Brasil continuará a condenar gerações a uma existência deplorável, longe do sentido de cidadania e apartadas da prosperidade que caberia a todos os filhos desta terra privilegiada em recursos naturais. A ganância e a estupidez deste momento, no entanto, não nos permite a construção de um caminho alternativo, com mais saúde e felicidade para todos. Oxalá, possamos ainda nos livrar deste destino tão vexatório e tristonho.
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