Dizer que os extremos se tocam, formando, no fim, um círculo ou uma aliança a unir falsos antagonismos, equivale a afirmar que ambos compõem e consolidam as duas faces de uma mesma moeda. Moeda essa que, ao ser examinada de perto, revela não ter lastro, pois, no seu valor de face, a soma dos dois lados é igual a zero. Com isso, o que se pode depreender é que qualquer que seja a direção tomada por aqueles que pregam posições extremadas, cedo ou tarde, todos se unem no mesmo ponto, formando um composto homogêneo que, pelo cheiro e toxicidade, logo sabemos se tratar de algo danoso à sociedade brasileira.
Tal é a semelhança na articulação política entre o atual governo, que se autoproclama de direita, e a turma que, a partir de 2002 subiu a rampa do Palácio do Planalto, pregando um programa de esquerda. Lá, como aqui, dentro do que se convencionou chamar de presidencialismo de coalizão, todos têm agido, no trato da coisa pública, seguindo as mesmas cartilhas que afrontam os mais comezinhos princípios da ética. Em outros termos, equivale a dizer que cometem os mesmos crimes para alcançar vantagens para si e para os seus.
Para ficar só no ponto relativo ao que seria essa cooptação remunerada dos congressistas, prática formalizada desde a redemocratização nos anos 1980 e que, segundo o Executivo, objetiva tão somente a aprovação das teses e propostas do governo, ontem, como hoje, os métodos seguem idênticos e, notem bem, sempre prejudiciais aos contribuintes que arcam com esses desperdícios que nada mais são do que verdadeiros desvios de recursos públicos.
No passado, como agora, todos esses acordos, fechados a preço de ouro, retornam para a população, na forma de inflação ou recessão. No passado, foi o chamado mensalão, alcunha dada pelo ainda presidiário Roberto Jefferson, aos pagamentos feitos pelos lulistas para a aprovação de suas pautas. Dinheiro que era entregue inclusive em pacotes até para os próprios correligionários. Agora, a nação assiste à reprise desses pagamentos, à sorrelfa, na forma mais sofisticada das chamadas emendas do relator ou RP9. Trata-se aqui dos mesmos mecanismos de outrora, com os mesmos propósitos e cujo os meios são igualmente contrários à lei e à ética pública.
Por isso, foram taxados de secretos e sempre desmentidos pelo governo e pelos congressistas. Ocorre que a drenagem de bilhões de reais, sem fiscalização dos órgãos de controle, chegou a tal ponto de escândalo escancarado que o Supremo Tribunal Federal (STF), sempre letárgico, teve de agir, atalhando, o quanto antes, essa sangria criminosa, jogando um balde de água fria no fervilhante mundo político da Praça dos Três Poderes.
Como pano de fundo dessas tramoias republicanas o que se descortina é o pleito de 2022 e as possibilidades de reeleição desses mesmos personagens. Assim como era antes, é agora, nesse cara ou coroa que tem engabelado toda uma nação por séculos.
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